HISTÓRIA DO RECREATIVO COLATINENSE

Com a instalação do município de Colatina, desmembrando de Linhares, que era sede até 1921, o Clube recreativo de Colatina passou a ser o principal ponto de referência para a sociedade da época. Ali se reuniam as tradicionais famílias de Colatina, Vitória, Linhares e, também, dos distritos de Baixo Guandu, Boapaba, Baunilha e Itapina.
Com o tempo, o Clube Recreativo tornou-se tão importante para os chamados sociáveis, que o número de associados começou a crescer em proporções jamais esperadas.
Terminou a década de 20 com o Recreativo chamando a atenção dos capixabas. Ali,os grandes bailes de gala eram a importante atração do Norte do Estado. E foi naquele espaço que muitas famílias foram constituídas, ali começando muitos namoros que, passando pelo noivado, até chegar ao casamento, era um passo; sem esquecer que no mesmo local muitas festas de casamento foram realizadas. Como o clube era o local preferido para encontros sociais,várias festas de formatura de colégios,principalmente do Conde de Linhares e Colégio das Irmãs,entre outros eventos,sempre prestigiados pela sociedade da época.

                                                                                       

Apesar de não existir mais, o Clube Recreativo Colatinense foi de grande importância para Colatina, de indiscutível valor, de alta significação sociológica e incontestável finalidade educativa e moral. Segundo uma revista editada em homenagem ao seu 20° aniversário, em agosto de 1944, o Clube Recreativo Colatinense foi fruto do espírito fecundo e idealizador social e altruísta de José Benjamim Costa, auxiliado por José de Oliveira e Alberto Osório de Aguiar. Durante os seus primeiros 20 anos,o clube também contou com a participação ativa de batalhadores como Paulo Afonso Vieira Resende, Xenócrates Calmon de Aguiar, José de Oliveira Neto e Armando Corrêa e Castro, entre outros que tiveram o mesmo empenho.
O Clube surgiu na mente de seus idealizadores no dia 21 de setembro de 1924. O antigo Bar Linhalis era,  naquele tempo, o local de confluência da mocidade, da intelectualidade e dos homens de negócios. E de lá saíram os três criadores da importante obra social que foi o Clube Recreativo. No dia 28 do mesmo mês já se realizava a primeira reunião no grupo escolar local, para apresentação dos primeiros planos e projetos. José de Oliveira, iniciando os trabalhos, convidou para presidente da reunião Dr. José de Oliveira Neto, que, aceitando a incumbência, escolheu para secretários José Benjamin Costa e Alberto Osório.

                                                                                


Ainda nessa reunião foi eleita a primeira diretoria provisória,ficando como presidente Antônio Pagani; Vice-presidente José de Oliveira; Diretoria José Benjamin Costa, Alberto Osório de Aguiar, Antônio Matos, Nelson Morais e Manoel Teixeira da Silva Grilo; Comissão de Sindicância: Dr. José de Oliveira Neto, Arthur Monteiro de Abreu e Adwalter Ribeiro Soares; Comissão de Contas: Antônio Pedro Giurizatto, Wandik Moreira e Antônio Pinto Filho, tendo como fiscal Dr. Paulo Afonso Vieira de Resende.
No dia 5 de outubro de 1924, foi inaugurada definitivamente a sociedade, que empossou a diretoria provisória e realizou uma festa de classe e estilo nos salões do Grupo Escolar cedido pelo delegado da Instrução, Dr. Xenócrates Calmon de Aguiar, que proferiu, a pedido do presidente, o discurso de batismo do Clube Recreativo Colatinense.
Com o acolhimento do público e a aceitação das classes sociais, em 1925 foi realizado um carnaval com festejos jamais vistos anteriormente.

                                                                                  

                                       

                                                CARNAVAL NO RECREATIVO COLATINENSE

Falando em diversão, logo todos pensavam no Recreativo, que acabou tornando a Rua Santa Maria uma das mais importantes vias de Colatina durante décadas. Entre as décadas de 30 e 60, a principal atração foi o Carnaval, com os inesquecíveis bailes no Recreativo, animados pelas bandas da Polícia Militar, ao comando da batuta do então sargente Lauro de Faria.
Eram noites alegres, fantasiosas, cercadas de muita alegria e descontração. Todos freqüentavam o Clube: rapazes, moças, casais, políticos, comerciantes e visitantes, sempre animados ao som de alguma grande orquestra, como a saudosa banda do maestro Walfredo Rubim, que, ao som inconfundível de seu saxofone, inebriava os seus diletos ouvintes.
No Carnaval, a folia no Recreativo começava muitos dias antes da folia de Momo. Era o tempo em que desfilar nos chamados “Blocos Sujos" tornara-se tradição. Assim, foram formados vários blocos, como o das Casadas, das Crianças, dos Solteiros e muitos outros.

                                                                                           


                                             GRAVATA NO RECREATIVO COLATINENSE

Era tão severa a disciplina do Recreativo, que os homens, para frequentá-lo, excetuando-se o período de carnaval, não podiam adentrá-lo sem estarem devidamente trajados. Era imprescindível o uso da .gravata, acessório sem o qual homem não entrava num baile de gala. Os bailes do Recreativo marcavam época e durante muito tempo eram motivo de conversa nas varandas das residências colatinenses e de prosa para as senhoras da sociedade.
Por ser tão importante espaço, o Recreativo recebeu muita gente que foi história neste país, como as visitas dos ex-presidentes Eurico Gaspar Dutra, quando da inauguração oficial do Hospital e Maternidade Sílvio Ávidos, e também políticos em campanha, como Juscelino Kubitschek e João Goulart. Constantemente se via no local prefeitos, vereadores, deputados e governadores, como o sempre assíduo Francisco Lacerda de Aguiar, que sempre fazia questão de visitar amigos colatinenses e participar de encontros importantes no Recreativo.

                                                                                     

 

                                                                       SEU LUPPI

Arnaldo Luppi, foi, durante décadas, personagem importante no Clube Recreativo. “Seu Luppi”, iniciou suas atividades como garçon, entre 1938 a 1939, quando foi chamado para ser porteiro em um baile de Carnaval no local “Depois disso eu nunca mais sai”, contou ele na época da reportagem da Revista Nossa de 1989. “Me lembro como se fosse hoje. Minha mãe havia falecido e eu, para tentar esquecer um pouco a tristeza, vim para a cidade. Foi quando me chamaram, em 1938, para trabalhar na portaria do Clube, pois o porteiro havia adoecido. Como eu sempre gostei de ter contatos com pessoas,da portaria fui para o setor de garçon,quando havia apenas três garçons no Clube. Gostei tanto que ali fiquei até me aposentar", argumentou o velho e experiente garçom
Com um certa ponta de saudade, Arnaldo Luppi se recordou ainda da sua maior gorjeta: 10 mil réis. “Era dinheiro que não acabava mais, e quem me deu foi o representante de vendas Everaldo Furtado Rodrigues, que gostava de mim como garçon". Ele contou que os bailes da época eram mais atrativos, cercados de mistério e de romantismo. “As músicas eram lindas, o clima era de cinema e é uma pena que muitos não tenham vivido a saudosa época que não volta mais."
Para um experiente garçom como o velho Luppi, sabia reconhecer sempre quem era sociável e tinha classe. Sem desmerecer os frequentadores que, porventura, tenha esquecido, Luppi lembra de dona Ruthe de Mello e Silva, esposa do saudoso Justiniano de Mello, que aqui foi prefeito. Conta Arnaldo Luppi que ela era uma pessoa animada e sabia como ninguém decorar o Recreativo para um grande evento. Na sua lista de memória, não esquece as famílias Giuberti, Dalla, Nogueira, Pretti, Richa, Pagani, Rodrigues e outras tantas que ali frequentavam.
“Era uma educação a toda prova. Os homens no Baile de Gala, quando o aniversário do Clube era comemorado, vinham com seus ternos de primeira, rigorosamente trajados, e as mulheres desfilavam seus vaporosos vestidos, contracenando com a decoração ambiente, que sempre era de muito luxo e bom gosto. É pena que o Recreativo tenha acabado”, lamentou Arnaldo Luppi na época.



                          
                                                     SAUDADE COLATINENSE

Das festas de formatura ginasial, dos bailes, das noites de serestas e de tantas outras realizações, o Clube Recreativo continua na memória de muitos colatinenses que o frequentaram. Foi um local importante para o desenvolvimento cultural e de lazer da comunidade. Não existe mais. Hoje é Casa da Cultura, com salão para conferências e dependências para a administração. Mesmo assim, quem ainda passa pela Santa Maria e viveu os anos dourados, sabe que ali está um patrimônio que pertenceu a tantas pessoas que um dia foram felizes por terem dele participado. Felicidade igual a de um homem de visão, chamado Antônio Pagani, uma vez que, por seu intermédio, tudo começou. E, durante anos, um pontinho de orgulho e vaidade de quem aqui nasceu, viveu e morreu. O Recreativo não existe como instituição, mas permanece parte de suas instalações físicas, no mesmo local da Rua Santa Maria, que orgulhosamente viu em seu leito desfilar garbosas personalidades, as mais belas mulheres e os mais afoitos rapazes. A saudade é intocável e pertence aos que o conheceram como Clube. Este patrimônio, ao contrário da antiga sede, jamais poderá ser tirado de todos nós.


                                                                             


                        
                                                       CASA DA CULTURA DE COLATINA

Hoje, o antigo Clube Recreativo é a Casa da Cultura, na época criada pela administração Tadeu Giuberti, ficou abandonada por bastante tempo e foi reativado e melhor estruturado pela administração de Leonardo Deptusky. Seu interior e todas as dependências lembram pouco que ali foi o clube da nata da sociedade colatinense. Por ali passaram Raul Giuberti e Ângelo Giuberti (pai e avô, respectivamente, do ex-Prefeit Tadeu Giuberti), Augusto Ruschi, Camilo Cola, Cândido Marinho, Justiniano de Mello e Silva Netto, Jacob Dalla, Ulysses Martins, Elias Rocha, Marco Pretti, Victório Pagani, José Salles Nogueira e Geraldo Vargas Nogueira, entre outros. No Carnaval de 37, na gestão de José de Salles Nogueira, aconteceu uma confraternização do Recreativo com um baile promovido pela Prefeitura no Clube Cruzeiro. Lá pelas tantas, todos do Recreativo foram até o Cruzeiro e se confraternizaram com os foliões de lá, num clima de paz e de alegria.

FONTE:Revista Nossa de outubro de 1989.
Contribuição do acervo de Cláudio Wotkosky

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