FAMÍLIA PELIÇÃO,CONHEÇA SUA HISTÓRIA NO NORTE CAPIXABA.

 De origem italiana, a família Pelição chegou a Colatina em 1935, indo morar inicialmente no distrito de 51, participando do desbravamento do Norte colatinense. Divaldo Pelição, um dos membros da família, veio com os pais Américo Pelição e Isabel Carleço, quando tinha apenas cinco anos de idade e faz a narrativa dos acontecimentos para a reportagem da Revista NOSSA. Eles habitaram o lugarejo de Alto Moacir, todos procedentes da região de Pau Gigante, hoje município de Ibiraçu, onde Divaldo nasceu em 22 de julho de 1930.
Na época em que chegaram ao município de Colatina, as terras que ocuparam foram conseguidas por cinco contos de reis, adquiridas de terceiros que já haviam recebido da Companhia Territorial. Eram 10 alqueires, numa propriedade situada no local demarcado pelo governo capixaba, cuja denominação era 51, hoje Governador Lindenberg. Ele diz que, quando seus pais chegaram, 80 por cento da região eram formados de mata virgem, sendo quase os primeiros a habitar aquelas paragens. La já estavam as famílias Salomão, Serafini, Pianna, Piantavina, Borgo, Delarmelina, Calliari, Zoppi e Loss. Estas fixaram residência antes dos Pelição, mas depois muitas outras famílias imigraram para a localidade, procedentes, principalmente, de Castelo e Alfredo Chaves. Transporte
Naquela ocasião, o transporte do centro de Colatina até Marilândia era feito de carro - os chamados caminhões "fordeco" -, cujos proprietários eram José Ceolin, os Colodetti, Lorenzoni e Passamani. De Marilândia até 51, o trajeto era realizado a pé ou em lombo de burro. Pelição observa que se gastavam três dias para fazer a viagem de ida e volta a Colatina - "mas o animal tinha que ser bom". Ainda não existia linha de ônibus na região e os únicos meios de transporte eram os fordecos, que se aventuravam pela precária estradinha feita a enxadão e picareta, até onde era possível e em lombos de cavalo ou tropas de burros, quando se tratava de transporte de mudanças ou mercadorias como foi o caso da família Pelição. Todos os seus membros foram transportados, junto com a mudança, em tropas de burros até chegar a Alto Moacir.
Os principais produtos de 51 eram o café e a lavoura branca (milho, arroz e feijão), cujo transporte se dava em tropas para a comercialização em Marilândia, onde haviam bons compradores, como Arnaldo Pretti, Colodetti, Passamani. Eram vendidos ainda suínos e bovinos. O animal de caça era muito comum na epoca, destacando-se o porco do mato (havia porco de até quatro arrobas), veados, pacas, tatus, cotias, onças e aves (tucanos, araçaris, inhambus, juritis e macucos). Uma onça chegou a ser abatida perto da casa onde morava a família Pelição, em Alto Moacir conforme relata Divaldo.
A região era cheia de córregos de água limpa, " hoje todos poluídos". Divaldo Pelição, com seus 64 anos de idade, revela ainda que havia muita fatura de comida, "mas  pouco dinheiro". E cita algumas curiosidades:" A banana da terra era dada aos porcos, pois não havia para quem vender. Vendíamos, sim, em Marilândia, rapadura e farinha de mandioca, que a gente fazia em nossa propriedade. A madeira era serrada com serra braçal, para construção de casas. As principais árvores eram aproveitadas para as construções e o resto ia para o fogo". Como principais madeiras foram relacionadas: Perobas, jequitibá, louro, vinhático, ipê roxo, ipê preto e jacarandá, que eram abundantes naquele tempo.
 
 

Caminhão
Divaldo relata que os primeiros caminhões a entrarem na região de 51 chegaram em 1946,no pós-guerra e pertenciam a Dário Salvador, Pedro Fernandes, Florêncio Santos Costa e a um alemão chamado Valentim. "Lá sempre foi um lugar saudável de se viver e formar família. Todos que residiam nas redondezas eram gente de paz".

Religião
Dois padres frequentavam as capelas locais, a cada três meses, para as cerimônias de casamento, batizados e confissões. Em Alto Moacir, a igreja de Santo Izidoro era mais frequentada. Os padres que presidiam as cerimônias eram os padres Benito Fizel - um alemão da paróquia de pancas - e o frei Miguel, da paróquia de Colatina. Ambos iam a cavalo para suas tarefas evangélicas.




Mecânica
Divaldo Pelição, um bem-sucedido proprietário de uma das maiores empresas mecânicas de Colatina, começou sua vida profissional aos 18 anos, quando se mudou para a sede do município, em 1948, para trabalhar de aprendiz numa oficina de Serafim Lobão, que funcionava onde hoje encontra-se o estacionamento do Bradesco, no centro de Colatina, próximo ao antigo galpão da empresa de luz e força santa maria. Nessa oficina o jovem e esforçado rapaz ficou durante três anos.
Em 1952, já dominando a profissão de mecânico, Divaldo montou uma mini oficina no galpão de Francisco Juliatti, em São Silvano, iniciando seu próprio negócio. Recorda-se de que São Silvano começava, então, a se desenvolver. Não havia calçamento e nem rede de água, e o trafego principal era de carretas carregadas de madeiras - " parte serrada aqui no bairro e o restante transportado em toras pela estrada de ferro até Vitória, onde embarcava, a seguir, em navio rumo ao exterior".

Pelição na época da reportagem, em 1994, tinha como sócio na Mecânica Kennedy, desde 1968, Lindomar Campos e se orgulha de dizer que emprega pelo menos 60 funcionários, sendo que naquela época era considerada uma das maiores mecânicas de Colatina, especializada em consertos de veículos pesados. Da época em que começou no ramo, lembra-se de alguns nomes que também seguiam o mesmo caminho profissional, citando, por exemplo, Amâncio Zanotelli, Guerino Zanotelli, Raimundo Cearense, Jorge Teixeira e Silva (Gerente Geral da Ford), Guilherme Gomes, Edília Maziolli, Osvalso Serafim (dono da primeira retífica de Colatina,que ficava em São Silvano) e Argemiro Balarini.

Divaldo Pelição é membro-fundador do Rotary Clube de Colatina-São Silvano, onde ingressou em 1969 e desde então participa sempre das reuniões semanais. Por várias vezes compôs a diretoria do clube de serviço e foi seu presidente de 1987 a 1988. Pela sua contribuição à entidade, recebeu muitas homenagens do Rotary.
 
Um orgulho para nosso entrevistado é a sua família. É casado com Cecília Bernabé desde maio de 1954 e com ela teve sete filhos: Jorge, Maria Helena, Vera Lúcia, João Batista, Regina, Luís Antônio e Isabel Cristina. Além dos avós paternos já citados, Divaldo menciona também os avós maternos: Luís Carleço e Ema Zucolotto. Quando a família Pelição chegou a Governador Lindenberg, Divaldo Pelição chegou com mais oito irmãos: Dovilda, Laura, Carmen, Luzia, Luís, Helvécio, Vital e José Antônio.







Fonte: Revista Nossa n°78 de outubro de 1994

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