COMO SURGIU SÃO GABRIEL DA PALHA

São Gabriel da Palha / ES em 1948.

                                           COMO SURGIU SÃO GABRIEL DA PALHA

Até 1920, a terra entre Colatina e Nova Venécia, no noroeste do Espírito Santo, era toda coberta de matas. Minas Gerais estava invadindo o pouco de área que nos sobrou da antiga Capitania do Espírito Santo. Em nosso Estado, especialmente no sul, havia colonos, imigrantes e aqui nascidos, com falta de espaço para criar suas famílias com dignidade. O índio já havia, em grande escala, sofrido a continuidade do processo de espoliação iniciado em 1.500. Havia ainda alguns por aqui. Eles não aceitaram se aldear em Pancas. Andavam nômades, coletando e caçando, e se encontravam numa cachoeira a que denominavam Jaguaribe. Jaguar é onça e ibe é cobra. Pode ser uma das duas quedas d’água do rio São José.
Assim, em 1923, o “Presidente” do Estado Nestor Gomes cria em Colatina a Companhia Territorial para gerir a colonização da área. Logo, em 1924, assume como “Presidente” do Estado, a figura histórica de Florentino Avidos. No ano seguinte, Avidos manda uma turma guiada por Cícero Morais abrir uma picada na mata para ligar os dois extremos. E começa a construir sobre o rio Doce uma ponte que deveria iniciar uma estrada de ferro ligando Colatina a São Mateus. Até parece um “repeteco” do sonho da Madeira-Mamoré. Só que aqui a estrada não teve mais que 7 quilômetros partindo de Colatina e chegou a Nova Venécia partindo de São Mateus, graças à família Cunha, do Barão de Aimorés. Mas, em 1928 foi inaugurada em Colatina a ponte sobre o rio Doce.
No mesmo ano de 1928, o Estado firma com a TOWARYSTWO KOLONIZACJISNE da Polônia um contrato para vinda de 1.800 famílias de colonos para Águia Branca(Orzel Bialy). E, em 1929, firma com a Empresa MALACARNE & COSTA um contrato de colonização do médio rio São José. Bertolo Malacarne já atuara em Marilândia desde 1923 e vinha atuando na Cachoeira da Onça desde 1925, autorizado verbalmente pelo Estado.
O novo “Presidente” do Estado, em 1929, era Aristeu Borges de Aguiar. Ele desistiu de construir a ferrovia (certamente por falta de dinheiro) e deu aos madeireiros esta incumbência. Em 1930, ela saía de Colatina. Em 1934 ela chegava a São Domingos . Em 1936, ela chegava a São Gabriel. Em 1940, ela chegava a Águia Branca(construída pelos presos). Era uma trilha precária, dentro da mata. Mesmo assim, um madeireiro de Colatina, Heitor Alencar, botou um transporte coletivo ligando Colatina a São Gabriel.
Já havia por aqui muitos colonos. De acordo com os livros da firma MALACARNE & COSTA, em 1925, adquiriram terras Eugênio Malacarne, Francisco Malacarne(meu pai), Antônio d’Agostini, Luiz Marchete, Etore Curbani, João Fregona, Sebastião Thomaz de Alencastro, João e Pedro Cocini, João Ardisson, José Pecin, Pascoal Fuzer, Júlio Fuzer, Pedro Salvador e Pedro Malacarne. Em 1926 compraram Irmãos Bastianelli, José Pilon, Apostólico Venturim, Etore Dalto, João Feretti, José Roseti Cordeiro e Germano Gerhart. Em 1927, Ângelo Bravim, José Dalto, Baptista Bragatto, Ernesto Bragatto, Victor Bragatto, Pedro Bragatto, José Bragatto, Victorio Breda, Sebastião Breda, Joaquim Liberato, Nelson Pinto Costa, João Perim. Em 1928, José Pilon, Ângelo Pilon, José Dalto, Antônio Pilon, Sebastião Gomes, João Frigini, Jacomo Pezzini, Antônio Pezzini, Áureo Roir Ferraz, João del Pietre, Antônio Suzano, Caetano Vanini, Joaquim Liberato e irmãos, José e João Figueira, Alexandre Moscon, Fortunato Taquetti, Dante Pedro Cocini, Luiz Adrição, Nicola Calabrez, Alexandre Godio, Agenor Perim, João Ferretti, Ponciano Falcão, Reynoldi Gervazio. Em 1929, compraram terras Ernesto Bragatto, Severiano Venturim, Jacomo Lorenzoni. Pedro Machado, Agenor Perim, Antônio Pillon, Francisco João Antônio Bastianello, Antônio Pecin, Francisco Bizio, Ângelo Spadeto, João Pasti, Fidelis Ferrari, José Callegari, Pedro Spadetto, Luiz Colombi, João Colombi, Caetano Spadetto. Em 1930, Antônio Lorenzoni,Telêmaco Scalfoni, Pedro Tartaglia, Francisco Tartaglia, Bernardo Mantovanelli, Serafim Servegnini, Miguel Servegnini, José Guilherme Bermond, Elias Scalfoni, Natal Cossi, Ernesto Catani, Virginio Baldi, Pedro Colombi, Ernesto Camillo, Antônio Colombi, Mansuetto Colombi, Vicente Colombi, Baptista Colombi, José Colombi, Caetano Cavatti, Bino Zani, . Não há registro de entradas de colonos nos anos de 1931, 1932 e 1933. Muitos não ficaram. Outros nem vieram. Outros ainda compraram mais de 1 área. Em 1934, vencia o contrato que MALACARNE & COSTA (Nelson Costa era o guarda-livros da concessionária) tinha com o Estado. Bertolo queria fundar um núcleo na margem direita do rio São José.
Reuniu uns 40 braçais que começaram a abrir picadas na mata desde a Cachoeira da Onça (onde dava febre malária “até em macaco”), no limite sul de sua propriedade até o extremo oposto, ao norte, onde está hoje a sede da Cooabriel. Ali abriu uma clareira na mata e passou a doar lotes a quem fizesse uma “barraca de palha”. Disse-me o Eduardo Glazar que a área deste extremo norte foi trocada por Bertolo por outra infestada de mosquitos anofelinos.
Quando os madeireiros de Colatina chegaram por aqui, em 1936, as barracas ainda existiam. Os poloneses vieram de Águia Branca, descendo o rio São José, por volta de 1937 e deram novo impulso ao esforço de colonização, no rumo de Vila Valério. Encontraram o mesmo panorama no núcleo. Na periferia, os novos colonos chegavam, às vezes a pé, para ocupar as terras ainda virgens. Data de 1943 a primeira foto(que conheço) dos inícios de nosso burgo. As barracas de palha já não existiam mais. Ficaram no nome: SÃO GABRIEL DA PALHA.
São Gabriel da Palha, Córrego General Rondon em 1950



Escrito por Altair Malacarne – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

Comentários

  1. Excelente pesquisa. O Sr Fortunato taquetti Taquetti é meu tio avô, irmão de minha avó Eugênia Taquetti

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