CILAS REIS,UMA HISTÓRIA DE LUTAS

A revista Nossa de Abril de 1994.Trouxe a história de Cilas Reis.Sua família foi parte integrante do desbravamento e colonização do norte do Rio Doce.Conheça agora a primeira parte desta história.
                                   
A família Reis fez parte integrante do desbravamento e colonização do Norte do Rio Doce na Lajinha do Oito,onde Manoel de Almeida Reis se situou nos idos de 1940.O entrevistado da NOSSA,Cilas Reis,é quem conta a história da região e sua luta na formação de sua família naquela conturbada época do pioneirismo,que exigia,além de bravura,muita fé.
Um grande empreendedor do município de Colatina e,sem dúvida alguma,o dinâmico fazendeiro e empresário Cilas de Almeida Reis,nascido em Sacramento,distrito de Bom Jesus de Itabapoana,Estado do Rio de Janeiro,e que chegou a Princesa do Norte em sete de setembro de 1945,trazendo toda a sua fibra e garra desenvolvimentista.Nascido em 18 de dezembro de 1920,Cilas de Almeida Reis recebeu a reportagem da Revista NOSSA,em sua casa,no bairro Maria das Graças,onde concedeu entrevista sobre sua vida de luta na criação da família.
No Estado do Rio,a família já dominava a agricultura e ao vir para Colatina,Cilas conciliou sua profissão de dentista prático durante dez anos com a de produtor rural. Chegou com muita vontade de trabaIhar,trazendo a esposa Nadir Rosa de Almeida Reis e a filha Célia, na época com apenas seis meses. Em Colatina nasceram os outros filhos com a primeira esposa: Cirênio,Renato,Cilas Filho, Selma e Rani. O casamento era recente quando chegou ao território colatinense,pois tinha contraído núpcias em nove de setembro de 1943. Cilas ficou viúvo em oito de abril de 1977 e contraiu novo matrimônio em 18 de dezembro de 1978,com Marilda Amorim Reis. Ela já tinha uma filha de cinco anos (Mônica) e ganhou outro filho,com Cilas,que recebeu o nome de Manoel Amorim de Almeida Reis,hoje com 14 anos.Foi uma homenagem ao pai de Cilas,Manoel Reis.
                                                                  DESBRAVAMENTO
O nosso entrevistado revela que ao chegar a Colatina,situou-se na localidade de Córrego Brejinho,na Lajinha do Oito. Fez abertura da mata,trabalhou como dentista e na lavoura de café. E ele se recorda dos idos tempos da década de 40:"Havia tudo quanto é bicho na região: macaco,anta. porco-do-mato, veado, paca, cotia e até onças. Nas matas eramos obrigados a usar espingarda para nos proteger dos imprevistos dos animais e das tocaias de pistoleiros,muito comuns naquela época. Muitas vezes eu vinha a Colatina fazer compras e voltava a noite pelas matas fechadas".
Como dentista pratico,Cilas era chamado de "doutor" pela população que o conhecia. Muitos diziam: Esse 'doutor' é corajoso, andando a uma hora dessas da noite nas matas." 0 que mais preocupava as pessoas eram as tocaias,principalmente nas regiões que compreendiam as propriedades de Abelardo Verbeno - latifundiário daquele tempo. Cilas de Almeida Reis recorda-se que? naquela época só havia em Maria das Graças as casas dos Fachetti, João Azevedo, dos Giurizato e de um barbeiro cujo nome não se lembra. Ele saia de Lajinha a cavalo para vir a cidade,sem ao menos portar uma arma.Carregava apenas um canivete para uso pessoal. A espingarda, só usava mesmo nas matas para se proteger e caçar animais. Em sua opinião,como presbiteriano,que é até hoje,não poderia portar armas,mesmo com a existência de tocaias,pois acredita na proteção de Deus e não se considerava inimigo de ninguém.
As primeiras terras que Cilas ocupou em Brejinho foram três alqueiros adquiridas de seu pai Manoel de Almeida Reis que Ihes deu para desbravar e cultivar. Antes de vir para Colatina seu pai havia comprado terras no Córrego Brejinho, Córrego Jararaca, Córrego da Alegria e Cabeceira da Lajinha do Oito. Como moradores antigos da região,Cilas cita: José Manente, João Batista de Oliveira, Abelardo Verbeno, João Amarílio de Lirio, Antonio Rosa, Guilherme Broseghini, Teodoro Broseghini, Daniel Paulino, Julio Paulino, Maximino Zanetti, João Costa, José Maciel e Venutiano Gomes. Produzia-se café, arroz, milho e feijão, mas a predominância era de madeira,muito farta e variada,com destaque para o ipê, peroba, jacarandá, estas muito comercializadas na Europa, e ainda: jequitibá, cedro, farinha seca, guaribu preto e vermelho e garapa.
 
                                                                      COMÉRCIO

Anos mais tarde,Cilas comprou um sítio de quatro alqueires na localidade de Santa Fé e colocou seu primeiro comercio e a seguir,com a compra de uma área de Abelardo Verbeno,foi criada a firma Manoel Reis e Filhos Ltda,formada por Manoel de Almeida Reis e os filhos Cilas de Almeida Reis,José de Almeida Reis e Itamar de Almeida Reis. Foi a primeira firma em sociedade. Dai para frente os negócios se expandiram tanto,que os Reis chegaram a colher 12 mil sacas de café em coco Bourbon, em um ano, que corresponde a quase cinco mil sacas de cafe pilado. Eles chegaram a comercializar 40 mil sacas de café por colheita, pois compravam o produto de outros produtores também.

                                                                        ERRADICAÇÃO

Cilas Reis tem uma triste lembrança: " Na época da erradicação,chegamos a erradicar, na década de 60, 52 alqueires de café quando o Governo Federal fez campanha. Foi o pior negócio que fizemos. Só não quebramos porque tínhamos muitas fazendas e muito gado. A erradicação em massa se deu porque havia muita produção e preço barato e assim o Governo resolveu pagar uma quantia por alqueire erradicado,a fim de subir a cotação. Os Bolsanello não erradicaram e ficaram ricos. conforme disse Cilas Reis. Os outros ficaram pobres e foram trabalhar para proprietários de terras mais estáveis. O café,na verdade,era a única renda deles. Nós,ainda bem que tínhamos fazenda no Córrego Rico,Santa Fé,lajinha e Timbuí (Bela Aurora) e com isso suportamos a crise".
Os Reis também foram donos da Cerâmica Rio Doce Ltda. e de uma fabrica de sabão,empreendimentos esses que não foram adiante. Mesmo assim,os outros negócios prosperaram e os filhos cresceram,casaram e se estabeleceram comercialmente em Colatina e em todo o Estado do Espirito Santo. Ele conta,por exemplo,a historia do genro Israel Guariento: "ele era gerente da Valory, com muita prática,e resolveu montar uma loja em sociedade com meus filhos Cirênio,Cilas e Renato. Fundaram o Mercadão dos Retalhos,trazendo o sistema de vendas utilizado em São Paulo com bancas espalhadas no interior da loja e na inauguração deu tanta gente que foi preciso o apoio da polícia para ajudar a conter a multidão,comenta Cilas. Hoje a sociedade é constituída por Cirênio,Martinho Demoner (outro genro),Renato,Cilas e Israel Guariento. Israel é casado com a filha de Cilas,Célia, e Martinho Demoner casou-se com a filha Selma. Há ainda outro genro,Gedaias, que casou-se com Rani e é proprietário da casa de produtos veterinários Pró Campo.
 
                                                                          CILAS REIS

Cilas de Almeida Reis nasceu em Sacramento,distrito de Bom Jesus de Itabapoana,Estado do Rio de Janeiro,no dia 28 de dezembro de 1920,filho de Manoel de Almeida Reis e Inês Venceslau de Almeida. No mesmo local nasceram seus irmãos José de Almeida Reis (casado com Corina do Carmo) Itamar de Almeida Reis,de saudosa memória,(era casado com Telma Resende do Carmo) Aguimar de Almeida Venceslau do Carmo (casada com Jaime Dutra do Carmo), Ademar de Almeida Reis (casado com Lúcia de Oliveira),Jair de Almeida Venceslau (casado com Liliam Giurizato Almeida) e Milton de Almeida Reis (casado com Maria Teresa Negrelli).
Cilas foi criado em Sacramento. Seus pais eram membros da Igreja Presbiteriana da localidade,onde ele foi educado desde pequeno e trabalhou na lavoura ate os 21 anos. A partir dessa idade aprendeu a profissão de dentista prático e começou a trabalhar nesta área em nove de setembro de 1943. Casou-se com Nadir Rosa de Almeida,filha de Mariano Rosa Pereira e Jodite Ana Rosa,na mesma localidade de Sacramento,onde nasceu Célia Rosa de Almeida Reis,hoje casada com Israel Guariento.
No dia 6 de setembro de 1945,Cilas mudou-se para Colatina,ocasião em que Célia tinha apenas seis meses e foram morar no Córrego Brejinho,em Lajinha do oito. Nessa região colatinense nasceu Cirênio,hoje casado com Nelma Vilas Rosas Reis de Sá. Depois mudaram-se para Santa Fé e ali nasceram Renato de Almeida Reis,Casado atualmente com Diana Gama Reis,Cilas de Almeida Reis Filho,casado com Arlete Passamani Reis,e Selma Rosa de Almeida Demoner,casada com Martinho Demoner. De Santa Fé,mudaram-se para a cidade de Colatina,onde nasceu Rani de Almeida Rosa,casada hoje com Gedaias de Almeida Rosa.

Cilas e Nadir tem 18 netos (Kely, Kênia, Carie, Camile, Poliana, Aline, Marília, Renato, Fernanda, Rômulo, Priscila, Mariana, Cilas Neto, Leonardo,Flávia, Roberto, Gedaias Júnior e Felipe,e três bisnetos.
No dia oito de abril de 1977 Nadir faleceu e no dia 18 de dezembro de 1988 Cilas Reis casou-se com Marilda de Amorim, filha de João Lacerda de Amorim e Iracema Ferreira. Quando Cilas casou-se com Marilda,ela já tinha a filha Mônica que e casada com Rogério Madeira. Com essa nova união do viúvo,nasceu Manoel Amorim de Almeida Reis,hoje com 14 anos.
 
                                                                      ATIVIDADE

Apesar de aposentado e de ver toda a família próspera e bem criada,Cilas de Almeida Reis não pára. Na época da colheita sempre vai para a Fazenda Rosa Reis (no Córrego Rico,distrito de Paulista,em Barra de São Francisco),ficando lá durante a semana e voltando a Colatina na sexta feira. A fazenda é dos filhos,mas Cilas participa com eles cuidando da criação de gado de corte e leiteiro,do café e colheita de cereais. "A terra lá é muito boa e quando a colheita esta no auge chego a ficar duas semanas na fazenda",conta.

                                                                      RELIGIÃO

Aos 73 anos de idade,ele se sente orgulhoso e com muita alegria de ver todos os filhos criados e bem posicionados economicamente, com rede de comércio de grande porte,gerando empregos aqui em Colatina e na Grande Vitória e contribuindo para a injeção de impostos nos cofres públicos. Outro orgulho também e a religiosidade da família: "Eu sou presbiteriano,mas há batistas e católicos também na família que frequentam a minha igreja sem qualquer constrangimento". Depois de 33 anos de presbítero,Cilas foi ordenado pastor evangélico presbiteriano em cinco de Janeiro de 1981,o que muito o lisonjeia. E ainda emérito da Loja Maçônica Nilo Peçanha.
Morando numa chácara,no bairro Maria das Graças,onde seu pai viveu os últimos dias de sua passagem terrena,Cilas de Almeida Reis lembra ainda que além de agropecuarista e pastor evangélico,teve muita atuação também como dentista prático na época em que chegou a Colatina,quando atendia seus clientes a pé ou a cavalo,em localidades longínquas e cobertas por matas. Entre outras localidades onde atendeu como dentista estão: Santa Fé, Marilândia, São Salvador, Córrego do Ouro,propriedade dos Chieppe. Ainda sobrava tempo para fazer o ginásio no Conde de Linhares. O cavalo ficava amarrado no bairro Lacê e ele seguia a pé até a cidade para estudar,fazendo depois o trajeto de volta para casa em Lajinha do Oito. Mais tarde com as condições financeiras melhorando,consegui terminar o ginásio, já de posse de uma caminhonete.



Fonte: Revista Nossa de abril de 1994

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