TANCREDO NEVES EM COLATINA


Inegavelmente, o carisma do presidente Tancredo Neves é uma realidade. Mesmo com sua falta, sua presença entre os brasileiros é uma constante e dentre esta multidão de 130 milhões de brasileiros, os 150 mil colatinenses sentem-se orgulhosos por terem tido a presença deste ilustre estadista em Colatina no período de sua campanha para governador de Minas Gerais.

Quando Tancredo Neves esteve em Colatina, em 1982, tivemos a satisfação de ouvir seu pronunciamento no campo de aviação no Bairro N.S. Aparecida, num modesto palanque instalado para sua recepção.


CÂMARA DE COLATINA ENVIA CONDOLÊNCIAS

Através do seu presidente, o vereador Renato Pagam Soares, a Câmara Municipal desta cidade enviou pela manhã, telegrama presidente José Sarney, solicitando, que ele transmita aos familiares de Tancredo Neves, representando o pensamento de 150 mil colatinenses. O sentimento pela perda do grande líder da Nova República". No telegrama, os vereadores de Colatina aproveitaram para confirmar "confiança e irrestrito apoio a Sarney, investido definitivamente na presidência da república.
Todos os 13 vereadores de Colatina tomaram conhecimento da morte de Tancredo Neves na noite de domingo, através das emissoras de rádio e televisão, passando madrugada a acompanhando os noticiários sobre as providências relacionados ao sepultamento do presidente eleito. O primeiro a chegar na Câmara, pela manhã, foi o presidente Renato Pagani, que providenciou juntamente com o diretor do Legislativo, Arnaldo de Vasconcellos Costa, o envio do telegrama ao presidente José Sarney.


A Câmara de Colatina reúne-se sempre às segundas-feiras a partir das 16 horas. Com o falecimento de Tancredo Neves, a sessão foi cancelada. Os trabalhos foram abertos apenas para o presidente Renato Pagani comunicar oficialmente a morte do presidente eleito.

O clima entre todos os vereadores era de muita tristeza. As bancadas do PDS e PMDB eram unânimes em dizer que o Brasil não perdia apenas um presidente eleito, mas também "um líder que conseguiu reunir 130 milhões de pessoas num único ideal de construir uma nova república, um político que marcara para sempre a história do nosso país".

Na integra, telegrama enviado pela Câmara ao presidente Sarney diz o seguinte: "A Câmara Municipal de Colatina, representando pensamento de 150 mil colatinenses, suplica a V. Excia. transmitir nossos sentimentos aos familiares do dr. Tancredo Neves, por tão infausto acontecimento, roubando de todos nós o convívio do grande líder da Nova República. Aproveitamos o presente para confirmar a confiança e o apoio irrestrito a V. Excia., investido definitivamente na presidência da República".

GIUBERTI LEMBRA QUE IDÉIAS FICAM

"O exemplo de vida, agonia e morte de Tancredo Neves em prol dos interesses da nação nos faz fortes para enfrentarmos estes momentos difíceis. Ele plantou no coração de cada habitante deste pais o desejo ardente da construção de uma nova República, um, Brasil para todos os brasileiros".
Este é um trecho da nota oficial que o prefeito de Colatina, Tadeu Giuberti, divulgou pouco antes de decretar luto oficial no município por um período de 8 dias.
O prefeito de Colatina quer, agora, a união de todos "pela construção do Brasil dos sonhos de Tancredo Neves". E este Brasil, segundo Giuberti, terá que passar por etapas que compreendem "a reforma tributária, com a aproximação de recursos, junto ao povo; a Constituinte, uma completa reforma social, com mais saúde, alimentação e habitação digna para todos e, finalmente; a eleição direta para a presidência da República".
"Está na hora da classe política provar que merece a confiança do povo. A exemplo de Tancredo Neves, levando adiante seu projeto", salientou Tadeu Giuberti, para quem a Nova República já se tornou um processo irreversível. "Todos, neste momento acrescentou - devem colocar os interesses da população brasileira acima dos interesses pessoais, que a luta do presidente não tenha sido em vão e sirva de inspiração para construirmos o Brasil dos sonhos de Tancredo Neves".

A nota oficial do prefeito de Colatina diz, na integra, o seguinte: "Em nome da população colatinense, o prefeito municipal dr. Tadeu Giuberti, se une as manifestações de pesar de 130 milhões de brasileiros, pelo falecimento de S. Excia., o presidente eleito dr. Tancredo Neves. "O exemplo de vida, agonia e morte de Tancredo Neves em prol dos interesses da nação nos faz fortes para enfrentarmos estes momentos difíceis. Ele plantou no coração de cada habitante deste país o desejo ardente da construção de uma Nova República, um Brasil para todos os brasileiros, que a luta do presidente não tenha sido em vão, servindo de inspiração para que todos nós, unidos, possamos construir o Brasil dos sonhos de Tancredo Neves".
Para Giuberti, a morte do presidente eleito não significa qualquer abalo na construção da Nova República, que ele pregou nas praças públicas. "Pelo contrário, a Nova República se consolida agora. Pelo povo brasileiro Tancredo Neves deu a vida, agonia e sua morte, quando deixou de ser operado antes de 14 de março, em sacrifício da própria saúde para garantir a mudança do sistema. A Nova República se consolida porque Tancredo conseguiu unir o povo na campanha, no exemplo, na esperança e na dor".

ESPÍRITO SANTO - BERÇO DA NOVA REPÚBLICA

"O espirito do presidente Tancredo Neves, que é um espírito conciliador, vai pairar sobre o Brasil durante muitos anos e o país vai ter que se mirar no que ele fez e naquilo que mostrou, através dos seus escritos e seus discursos. O caminho que queria para o nosso Brasil, ele deu o exemplo e a palavra para que a gente seguisse". Essa foi a declaração do governador Gerson Camata, na entrevista coletiva à imprensa. Muito emocionado Camata disse que o país perdeu um grande presidente, mas que o Espírito Santo, além disso, perdeu um grande amigo. "Tancredo gostava do Espírito Santo, conhecia todo o Estado e tinha uma afeição muito grande por ele", salientou o governador.

NOVA REPÚBLICA
Camata relembrou que aqui no Estado que aconteceu o lançamento das bases da Nova República, na visita que Tancredo, então candidato à presidência da República, fez ao Espírito Santo, em 15 de novembro do ano passado. O governador salientou ainda que no discurso feito por Tancredo, quando de sua vitória no Colégio Eleitoral, citou duas cidades: a de São João Del Rey, onde nasceu, e Vitória, onde nasceu a Nova República.

Na opinião do governador Gerson Camata, todos os governadores que apoiaram e deram sustentação ao presidente Tancredo Neves, reafirmarão e transferiram todo esse apoio para o presidente agora empossado José Sarney. "Eu acredito que o presidente Sarney fará valer todos os compromissos firmados por Tancredo Neves", frisou Camata, Segundo ele, o compromisso do povo agora, e em especial do Espírito Santo, é a Constituinte tornar-se uma realidade, e eleger pessoas que tenham afinidades com os pontos de vista expostos por Tancredo Neves.

O EDITORIAL DE LUIZ CARLOS MADURO NO ANO DE 1985, NA REVISTA SOBRE A MORTE DE TANCREDO NEVES.

A conciliação nacional representa, nesta hora grave e triste que o País atravessa, antes de mais nada, efetiva demonstração de fidelidade aos ideais que transformaram o presidente Tancredo Neves no estuário das esperanças do povo brasileiro. Foi sob essa fonte inspiradora que ele sustentou toda a sua pregação nos meses que culminaram com a escolha para a suprema magistratura do Brasil. E na luta dramática e heroica para vencer a morte, galvanizou o País inteiro num só sentimento de união e de confiança.

Perdida a desesperada batalha contra a fatalidade de um destino cruel e irreversível, uma faixa colocada durante vários dias em frente ao Instituto do Coração, em São Paulo, indica, hoje, quase uma palavra de ordem do criador da Nova República: "Não vamos nos dispersar".

O presidente José Sarney, que assumiu as mais altas responsabilidades perante a Nação e a História, adotou uma postura irrepreensível durante todo o período em que o sr. Tancredo Neves padecia na solidão da UTI do hospital paulista. Autolimitou-se no exercício do poder, em nome de padrões éticos e dos vínculos de afeto ao seu líder maior e ao admirável ser humano que, aos poucos, caminhava inexoravelmente para o fim de suas resistências. Manteve, intactas, as diretrizes do programa da Aliança Democrática, constantes do "Compromisso com a Nação", formulado pelo presidente eleito.

Agora, diante da desgraça que se abate sobre o País, o presidente José Sarney passa a ser o depositário das expectativas que se encontravam adormecidas há mais de 20 anos. E as esperanças não podem e não devem morrer. A batalha pela reconstrução nacional tem como fonte principal de motivação justamente a concórdia pela qual tanto se bateu o grande brasileiro que se foi. Esse esforço a ser agora empreendido, consequentemente, não prescinde da contribuição de ninguém, sobretudo das lideranças políticas, que assumiram responsabilidades históricas com o novo Brasil que todos almejam edificar.

Em nome do futuro, a hora é de ensarilhar as armas, pois, mais do que nunca, o País vai precisar de paz e tranquilidade para trabalhar como um todo. Como a dolorosa enfermidade de Tancredo Neves congregou o Brasil Inteiro em preces, impõe-se que esse clima de desarmamento de espíritos, independentemente de quaisquer siglas partidárias, constitua soma de energias para a construção do futuro. Afinal, o Brasil também está doente. E em estado grave, não é de hoje. Vale a certeza, porém, de que dispõe de todos os meios para vencer as adversidades. Meios de ordem humana, como de natureza material. Entre eles estará a conjugação de esforços de todos os segmentos da sociedade, numa união superior e inquebrantável, conforme a lição que Tancredo Neves deixa como a maior de todas as inspirações.






Fonte: Revista Nossa nº13 de Maio de 1985

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