SILVIO RODRIGUES MARQUES –A ERA DA SICAM EM COLATINA

No mundo dos homens e das coisas, os fatos continuam a lazer a história. Uma história de grandes e pequenos, de heróis e desertores, de construtores e de inúteis, mas acima de tudo, uma história de homens. Homens para os quais sempre existe um tempo. Tempo para o qual sempre existe uma verdade. E cabe a este homem saber que o seu tempo não poderá ser melhor sem sua participação, nem suas verdades serem eternas sem os seus valores. Então, não importa onde nem como tenha nascido, importa que ele descubra por que e para que viver, importa que ele se assuma como ser humano numa posição sua não definitiva e radical diante das coisas mas consciente e lúcida diante dos homens, sabendo que dela é apenas continuação de um trabalho que Alguém superior designou. Seu nome é SILVIO RODRIGUES MARQUES. Seu tempo começou em 15 de novembro de 1927, em Ribeira do Campo dos Besteiros, Província de Viseu Portugal. Um fruto nascido numa terra que não era a nossa, mas a ela ligada por uma estranha coincidência a um magnífico fato histórico: A Proclamação do Republico. E talvez por isto, esse fruto, tenha escolhido os caminhos de nossa terra para florir e fixar suas raízes. Aqui chegou com apenas onze anos, no ano de 1938, vindo no navio England Brigad da Companhia de Navegação Mala Real Inglesa. De início, sua família fixou-se em Vitória. Ah, Sílvio dedicou-se aos estudos, iniciando os alicerces do seu futuro. Depois iniciou-se em diversas atividades, ampliando seu campo de conhecimento pessoal e social. Foi funcionário do MORISON - Companhia que participou ativamente da construção da Estrada de Ferro Vale do Rio Doce, onde era chefe do Setor de Pessoal. Por essa firma foi transferido para Barra do Piraí - RJ, onde se casou. Tempos depois, como funcionário da COBRAICE, passou a trabalhar na cidade de Itueta — MG, como gerente de uma de suas serrarias, de onde sua rota marcou um ponto de encontro com Colatina.



TEMPO E AS VERDADES DE UM HOMEM

E aqui, no ano de 1952, suas verdades começaram a marcar o seu tempo, de maneira decisiva. A verdade do trabalho, no eterno tempo de construir. A verdade da fé, no tempo de se crer na capacidade realizadora do homem. E, acreditando nessa capacidade, fincou em São Silvano à rua Fortunato Piccin, uma serraria para transformação e comercialização da Peroba do Campo. A essa serraria denominou SAM — Serraria Aristides & Marques Ltda. Teve como sócios Aristides Tomas Pepino e Manoel Alves Lamas. Seu trabalho daí por diante não fixou dimensões ou limites. Durante 10 anos, se tornou comum vê-lo confundido com os funcionários de sua empresa, manipulando, dialogando, conhecendo e dando-se a conhecer. Mostrando que o posto de patrão só é válido quando quem o ocupa aprende a se impor e ser respeitado, através dos seus valores, de sua grandeza interior e do seu sentido de igualdade e liberalidade. Assim, lentamente, Silvio Marques foi adubando as terras que serviriam de morada para suas raízes. E este adubo foi de tal fertilidade que logo se sentiu necessidade de ampliar o espaço para o cultivo do progresso iniciado em 1952. Foi por isso que em 1961, realizou uma viagem pelo exterior indo pesquisar nos EUA e em alguns países da Europa novas técnicas, novos rumos que poderiam ser dados à Serraria. E mais uma vez, o esforço e a vontade foram compensados. Em 1962 começa a funcionar a nova SAM, agora sob a sigla de SICAM: SERRARIA E INDÚSTRIA DE COMPENSADOS ALVES MARQUES LTDA., com uma produção de 400 metros cúbicos mensais de compensados, criando para Colatina novas divisas, dando ao Estado mais um ponto no gráfico da indústria e ao Brasil, nova esperança. Como dissemos, o trabalho deste grande empresário não fixou dimensão nem limites. Seguindo os caminhos do futuro, instalou em Belém do Pará uma nova e moderna serraria à qual estaria entregue o abastecimento do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, além de considerável volume de madeiras para o comércio exterior. Daí para cá, nem a necessidade de confirmação do valor e da grandeza desta empresa e deste homem, que foi o seu fundador, necessitou sequer de confirmação. Tudo veio de maneira lógica, racional, porém humana. O homem se tornou grande pela sua força, a empresa se tornou grande através do homem. Seu caminho passou a ser o caminho de muitos. No entanto, em nenhum momento, a sombra das árvores que plantou encorajou a indolência dos que estavam ao seu lado. Sua inteligência passou a ser reflexo de muitas inteligências, mas sem jamais ofuscar ou queimar as dos seus companheiros. Foi o humilde de uma grandeza extraordinária. Mesmo sabendo que muitas colheitas poderiam ser perdidas na incerteza do tempo, jamais deixou de plantar bem as suas sementes. E isso proporcionou a colocação da SICAM em primeiro lugar em indústrias do gênero no estado. Isso se prova não só pela produção e qualidade dos produtos - SAM, como também pelo excelente material técnico sempre atualizado dentro dos mais modernos padrões, e entregue ao pessoal de alta qualificação que aprendeu com o Seu Silvio, o amor, respeitar e esperar sempre mais e melhor da sua fábrica. No entanto, mesmo sem horizontes próximos, o homem, este homem, se perdeu nas cores do infinito. Seu mundo de sonhos, de força, de realização, se apagou de repente nas curvas de uma estrada. Num caminho amado, que sempre foi o seu caminho de voltar. Voltar para sua gente, voltar para o seu mundo particular, feito de pessoas, lembranças e realizações, muito suas e sempre amigos. Mesmo tendo que se fixar mais nos escritórios do Rio de Janeiro - GB, Colatina era o seu porto seguro. E foi aqui que ele ancorou de maneira definitiva, em 14 de janeiro de 1973. Não se pode colocar, porém, o seu fim como uma tragédia. Isso seria reduzir a inúteis fragmentos roídos de uma vida de lutas, de competição, de construção. O seu fim não foi trágico, foi simplesmente uma retirada. A rotina da vida arrancando do mando dos homens e das coisas um homem. Falar de ausência? Para quê? Ele continua. Em cada mão que manipula uma alavanca, em cada mente que projeta uma nova realização, em cada tronco que se transforma em folhas de compensado. E não há ausência. Silvio Rodrigues Marques viveu, no seu tempo, a sua verdade e sabe não tê-lo feito inutilmente. Isso marca tudo. Isso diz tudo. Homem de tempo sem limites. Homem de verdades plantadas para sempre. Verdades que erigem um cultivo para sempre e lúcido e que vem sendo feito pelos sócios remanescentes Antônio Marques de Mello na ativa, Isaura Noel Kaps Lamas, Manoel Alves Lamas, residentes no Rio de Janeiro, e por cada funcionário, num equilíbrio sem fórmula científica, mas perfeito nas leis que regem a integridade de cada ser.

NUM ESPAÇO A LEMBRANÇA DE UMA VIDA.

E por esta integridade que supera todos os obstáculos, pela realização que supera todos os tempos, um espaço se transforma na lembrança de uma vida. A Câmara Municipal dos Vereadores de Colatina, ao aprovar a Lei n° 2436, criou o Bairro Silvio Rodrigues Marques, localizado entre o Bairro Sfalcini e o Bairro Dr. Carlos Germano Naumann, na Rodovia do Café. As sementes que foram plantadas transformando-se, e hoje, a árvore tem o seu nome verdadeiro. Seus frutos estão no nosso tempo e são da nossa terra. O que virá? Não sabemos. O que existiu viveu e permanece, está aí no homem, na fábrica, no Bairro Silvio Rodrigues Marques. Muito justo, muito lógico, sem rotina.



Fonte imediata: Rosen Sílvia Marques Brotas, filha de Sílvio

Pesquisa e digitação: Altair malacarne em 29/03/2024

A gazeta — Vitória (ES) domingo, 11 de novembro de 1973, página 1







 

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