TUMULTO DURANTE AS APURAÇÕES DO CARNAVAL COLATINENSE EM 1988

O carnaval de Colatina de 1988 foi diferente de todos os anteriores porque foi o maior de todos os tempos, no que se relaciona ao desfile das escolas de samba, dos blocos e de público nas ruas. O desfile das escolas de samba começou por volta do oito e meia da noite de domingo e só terminou às três da madrugada de segunda-feira.  Em 1987 começava no mesmo horário e terminava no máximo à uma hora da madrugada. Nos anos anteriores o encerramento era bem mais cedo. 
Em 1988, a participação do público foi maior, lotando as ruas desde a rua Pedro Epichim, em Colatina Velha - onde começava o desfile - passando pela Avenida beira-rio e tomando toda a Praça Municipal no local do antigo abrigo dos ônibus. Muitos colatinenses, certamente, deixaram de ir à praia para prestigiar o desfile das escolas de samba, tendo em vista que, desde 1987, foram cinco agremiações que desfilaram, ao invés das três anteriores. Unidos de Colatina Velha, Unidos do Perpétuo Socorro e Acadêmicos de São Vicente. A partir de 87, juntaram-se a estas as escolas de samba império de São Silvano e Mocidade de Bela Vista. Essas novas escolas, com certeza, atraíram pessoas de seus bairros que foram para a Avenida Beira rio aplaudir os parentes, amigos, vizinhos e, até mesmo, por mera curiosidade. É importante registrar, ainda, que o crescimento do carnaval colatinense atraiu visitantes de municípios vizinhos, como Pancas, São Gabriel da Palha, Marilândia e Santa Teresa. A fama do nosso carnaval ultrapassou as fronteiras de Colatina e o de 1988 foi, disparadamente, o de maior participação popular na passarela do samba.

Depois do desfile das escolas do samba, chegou a vez dos blocos carnavalescos saírem às ruas na segunda-feira à noite. Só que Colatina perdeu a tradição dos blocos sujos que se formavam despretensiosamente no passado, apenas com o intuito de brincar o carnaval pelas ruas da cidade. Os blocos estavam melhores preparados, com fantasias mais ricas, principalmente porque o desfile era oficial, concorrendo a prêmios oferecidos pela Prefeitura de Colatina. O Bloco das Piranhas foi, com o bonito trabalho realizado pelos moradores do bairro Honório Fraga, o que ficou em 1º lugar, recebendo Cz$ 30 mil; em 2º ficou o Bloco das Viúvas, de Perpétuo Socorro, com Cz$ 20 mil; e o 3º lugar foi para o bloco da Amizade, do Bairro Operário, que recebeu o prêmio de Cz$ 10 mil.

Ainda na noite de Segunda-Feira após o desfile dos blocos e entrega de prêmios, foi procedida a apuração dos votos recebidos pelas escolas do samba no domingo. Durante a apuração dos votos houve um grande tumulto no palanque armado na avenida Beira-Rio. O dirigente da Império de São Silvano, e o presidente da Unidos de Colatina Velha, trocaram ofensas verbais e físicas, discordando das notas anunciadas pela mesa apuradora, quando entrou na briga um outro componente da São Silvano, A.J(suplente de vereador),que sacou de um revólver no palanque, arma que foi posteriormente apreendida pela Polícia Militar, presente ao local. No mesmo instante houve muitos atropelos entre componentes das escolas de samba, causando a intervenção da policia diversas vezes, para conter os ânimos dos agressores que tumultuavam o bom andamento na divulgação do resultado do desfie carnavalesco.

Até a imprensa, presente à apuração, esteve a todo instante em perigo, pois se encontrava na linha de tiro e do agressões.Inclusive o editor da revista "Nossa", Luiz Carlos Maduro, assistiu a todo o acontecimento temendo ser, de repente, atingido por uma bala. Isso mostra o quanto ficaram expostos os presentes: os próprios dirigentes das escolas de samba, a presidente da mesa de apuração, Lenize Tozzi, o diretor da Rádio Difusora de Colatina, Geraldo Pereira, que divulgava as notas ao microfone, e o próprio público. O radialista Geraldo Pereira, em determinado momento, chegou a pedir, através do serviço de som, que houvesse compreensão e calma por parte dos mais exaltados foliões.

A revista "Nossa" se posicionou, mostrando o risco que a Imprensa corre quando há desorganização. Mesmo sendo o melhor carnaval dos últimos tempos em 1988, o tumulto, tão vergonhoso, mostrou que alguns dirigentes de escola de samba não estavam preparados e a própria comissão organizadora do carnaval, uma vez que o motivo maior da briga foi provocado por um jurado de fora de Colatina que, ao invés de votar com números, colocou letras no quesito de mestre-salas e porta bandeira. Como esse jurado já havia viajado para seu município de origem, não pôde, no momento da apuração, esclarecer o que significavam. Suas notas dadas para o quesito mestre-salas e porta-bandeira. A partir de então os ânimos se exaltaram e, no final das contas, chegou-se a um acordo em que todas as escolas receberam a nota 10, não agradando, contudo, a todos os dirigentes. 
Os episódios lamentáveis do ano de 1988 serviram de exemplo para a comissão organizadora que, nos próximos anos se organizariam melhor. Em volta do palanque, inclusive, deveria ser isolada uma área do 10 metros, com o público afastado para que os trabalhos ocorressem de forma ordeira e protegendo a vida dos que mais se colocaram em risco naquele momento. 
Quanto à questão dos jurados de fora, no entendimento da revista "Nossa" na época do ocorrido, só desmerece o carnaval colatinense que, se tivesse mais duas escolas de samba no ano próximo que seria 1989, iria durar a noite/madrugada até as primeiras horas da manhã seguinte. Se o jurado que deu as notas com letras fosse de Colatina, ele poderia estar aqui para esclarecer o que elas significavam e, com isso, evitar fatos lamentáveis como os tumultos e agressões que aconteceram. 
Jurados para o carnaval poderiam ser encontrados aos montes em Colatina, como a própria classe jornalística, diretores e professores de colégios, artistas, músicos, médicos, advogados, e tanta gente esclarecida o suficiente que, com certeza, poderiam encontrar em nossa cidade. A comissão que organizou o carnaval de Colatina, no ano de 1988, precisava de conversar, dialogar, discutir o assunto com quem entendia para que tudo saíssem a contento e não se repetissem os tristes e condenáveis momentos das brigas entre dirigentes de escolas de samba, levando perigo para uma série de outras pessoas envolvidas em seu trabalho e que estiveram durante muito tempo na linha de tiro e de agressões daqueles que não estavam preparados para viver num meio social.

Fonte: Revista Nossa de 1988 

 

Comentários