NOSSAS MISSES COLATINENSES


 


“Em Colatina, menina,em tudo o que a gente quer, tem a simpatia da menina e a beleza da mulher”. O poeta e compositor paulista, mas capixaba de coração,e consagrado nacionalmente (músicas gravadas por grande nomes da MPB), Pedro Caetano, sabia muito bem o que estava dizendo quando compôs esta música a vários anos atrás. Falar da mulher colatinense sempre foi e será fundamental, pois não existe quem não reconheça tal fato.
Sua beleza corre mundo e, por tanto correr mundo, cai nas graças dos admiradores (inclusive forasteiros), não deixando de marcar presença nos diversos acontecimentos de grande movimentação da sociedade. Não é por acaso que Colatina é chamada “A Princesa do Norte Capixaba”.
Seja morena, loira, mulata ou negra, a mulher colatinense sempre foi reconhecida por seus traços físicos perfeitos,mas, sobretudo, por seu bom gosto, charme e elegância. Tão famosa ela é que foi mencionada na antiga Revista Bloch, editada nos anos 60 e 70, numa reportagem sobre as belezas do Espírito Santo.



                                            
                                               MISSES COLATINENSES EM DESTAQUE

E como comprovação dessa tão exaltada beleza,ela já representou o Estado em vários concursos de misses, principalmente da década de 30 em diante. Pelo menos cinco delas foram reconhecidas pela perfeição de seus traços, personificação de beleza feminina, simplicidade, angelismo e inteligência, qualidades essenciais para a escolha.
Justina Primo foi a colatinense que se destacou por sua beleza em âmbito estadual. Quando ganhou tinha 18 anos, sendo de família humilde e, por isso mesmo, não frequentadora das altas rodas da sociedade.
Clara, de cabelos escuros, assim todos a conheceram no auge de sua beleza. Descendente de italianos ela morava nas proximidades do bairro Vila Nova,Nos anos 60, outra colatinense caiu nas graças dos admiradores. Carminha Zamprogno era o seu nome. E era de família simples, também, como a maioria das candidatas dos concursos de beleza.
Nos anos 70, Dalva Riva foi a última colatinense a conquistar o título de Miss Espírito Santo. 
Quem muito nos ajudou, prestando estas informações, foi o casal Jaines e Anísio Richa, assíduos freqüentadores dos círculos sociais colatinenses, representados pelos clubes Recreativo e late e dos saudosos e áureos carnavais da cidade, além de outros eventos que só mesmo nossos pais e irmãos mais velhos conheceram.
Falando das misses, eles tem oportunidade de relembrar os seus tempos de mocidade e de pura fantasia, “mas também de responsabilidade e de respeito, o que não vemos muito hoje", ressalta ele.
Das cinco colatinenses que foram Miss Espírito Santo, eles afirmam que as que mais marcaram foram Maria Fernandes, e Maria Rosa Ferrari, na década de 30.

                                                                                                  

                                                                  MARIA FERNANDES

Eleita no início dos anos 40, 18 anos, alta, magra, morena clara, meiga, calma, elegante, muita otimista e, principalmente, muito bonita. Assim era Maria Fernandes, moça calada e de família de classe média. Filha de Augusta Batista Fernandes e João Antônio Fernandes, que tiveram 15 filhos, morava na rua Alexandre Calmon,uma das mais antigas vias da cidade. O irmão Augusto foi quem a acompanhou ao Rio de Janeiro,onde disputou com candidatas de todo o Brasil.
Jaines Richa lembra-se que nesta época o Clube Recreativo estava a pleno vapor em suas atividades sociais e havia um bloco cujo nome era “Holandesas”, do qual Maria Fernandes fazia parte.
Como participante das festas do clube, ela ganhou para Rainha do Recreativo, que organizava concursos de rainhas e princesas. A partir daí é que ela foi convidada a representar Colatina no concurso de Miss Espírito Santo, que acabou ganhando.
Após o concurso, casou-se com um veterinário e teve três filhos, Raul, Caroline e Marta e, ainda, vários netos. Residiu na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, é era membro da igreja Messiânica Mundial.
Em 1985 veio a Colatina visitar os amigos que aqui deixou. Dona Aríete Giuberti, viúva do senador e ex-prefeito Raul Giuberti, é uma de suas mais antigas amigas de Colatina.

                                                                          

                                                         MARIA ROSA FERRARI

Entretanto, dentre todas elas, a que foi mais longe na sorte foi Maria Rosa Ferrari, filha de Fidélis Ferrari e Raquel D'alcomo, descendente de italianos e filha de lavrador. Em 1930, tinha 16 anos, era alta, de olhos azuis e já moça feita, quando foi escolhida para representar Colatina no desfile de Miss Espírito Santo.
Numa entrevista ao jornal “A Gazeta”, em 1973, Maria Rosa Ferrari contou toda a trajetória de seu brilhante título, o 3° lugar no concurso de Miss Brasil, no Rio de Janeiro.
Na época, o pai viajando, o medo de “ficar falada”, como dizia o povo, a mãe explicava às autoridades colatinenses que ela não tinha roupa e que também o pai não estava em casa para a autorização. “Ele não gosta nem que ela vá aos bailes.”
A moda da época eram vestidos longos, e ela não tinha nenhum, sendo necessário pegar alguns emprestados com a irmã mais velha e outros com a prima e, ainda, comprar outros com o dinheiro dado pela Prefeitura, um conto de réis, o que em Vitória lhe valeu o título) diante das candidatas de Cachoeiro de Itapemirim e da Capital. Com sua vitória, foi recebida em Colatina com flores, o povo na rua, palmas, comércio fechado e, ainda, vinte contos de réis.
No Rio de Janeiro, para a escolha da Miss Brasil 1930, o júri era formado por intelectuais e políticos que por cinco dias, através de contatos com as concorrentes, estudavam sua personalidade, modos e beleza.
Cada uma delas tinha um representante. Porém, o deputado capixaba da época “não deu o ar da graça”, como ela mesma afirmou, o que contribuiu muito para sua derrota.

                                                                               

                                                                    O DIA DE MISS

Na época, todas elas ficaram hospedadas no Hotel dos Estrangeiros, mas a capixaba ficou na casa de um senador conterrâneo, pois o pai não queria deixá-la ficar no hotel.
Nunca ter viajado de avião e ter que viajar num hidroavião até a então capital do País, numa viagem que começava num dia e terminava em outro, ter vômitos constantes e, além disso,enfrentar uma pane que exigiu.uma aterrissagem forçada, Maria Rosa Ferrari soube superar tudo, principalmente ao se deparar no Rio com os preparativos que a cidade havia feito para ela: bailes, festas e os apoio de gritos de Capixaba!Capixaba!
Já era óbvio que a briga pela beleza ia ficar entre a Maria Rosa, de Colatina, e Yolanda Pereira, do Rio Grande do Sul. No dia do último desfile, faltou luz na cidade e, no corre-corre para se arrumar, Maria,como era chamada, machucou o rosto, cotovelos e joelho ao cair de encontro a uma máquina de costura. Com isso, não queria mais desfilar, mas todos a convenceram a continuar.
Um fato engraçado aconteceu, segundo ela, após o baile, quando deparou-se com um gaúcho que, querendo namorá-la, aproximou-se e disse: “Mulher é uma coisa engraçada. Outro dia eu te vi com este vestido, só que o laço era na frente”. Maria notou com desesperada certeza que tinha vestido a roupa ao contrário.

                                                                                         

                                                            JOGO POLÍTICO

Se ser Miss Brasil era difícil para quem era do Espírito Santo, mais ainda era em tempo de guerra. E já havia quem afirmasse em jornais da época que “haja o que houver, ganha a Miss Rio Grande do Sul para dar força a Getúlio Vargas”, Além disso, o Espírito Santo não tinha representante no júri.
Naquele tempo era tudo às claras. As misses desfilaram para o júri com o rosto lavado. Detidamente examinadas, empataram miss Espírito Santo e miss Rio Grande do Sul. Na segunda votação, Maria já ficou em segundo, juntamente com Miss São Paulo. E depois, com a falha do representante, acabou em terceiro.
De acordo com o que ela mesma dissera uma vez, “Yolanda Pereira era bonita, mas um pouco gorda demais. Em vários locais que fomos, ouvimos o povo gritar que a capixaba era mais bonita. Yolanda era filha de operários e não sabia o jogo político que se escondia atrás dela. Era um ano de revolução no Brasil e ela precisava ganhar. Em 1930, o concurso internacional foi feito no Brasil e, se agora reclamam de marmelada, precisavam ver naquela época. Havia misses lindíssimas e Yolanda acabou ganhando o concurso”.
Maria Ferrari, a “Mariquinha”, como era mais conhecida, casou-se com o engenheiro carioca Dido Fontes, logo após o concurso, e com ele teve três filhos, que lhe deram sete netos. Morava em Vitória e freqüentemente vinha a Colatina. Ficou viúva e, em 1986, faleceu, vítima de câncer.
Ela contava que, naquela época, ser miss era uma boa oportunidade para arranjar um bom partido: “No meu tempo era tudo de rosto lavado. Nada de Helena Rubinstein, pintar cabelo, nada de ninguém arrumar a gente.”

FONTE:Revista Nossa de outubro de 1989.
Contribuição do acervo de Cláudio Wotkosky

Comentários