ÍNDIOS,PRIMEIROS HABITANTES DA PRINCESA DO NORTE


 Os botocudos habitavam todo o baixo Rio Doce, desde Linhares até Baixo Guandu.Segundo depoimento de bandeirantes e viajantes que percorreram o baixo Rio Doce desde a Segunda metade do século XVI até meados do século passado, os índios Botocudos eram os senhores da região compreendida entre os rios Doce e o São Mateus ao Norte. Também numa faixa litorânea bastante extensa, habitavam índios Tupiniquins, do grupo Tupi. Os depoimentos dão conta ainda de outras tribos, com as quais os Botocudos estavam constantemente em pé de guerra: Malalis, Cumanachos, Maconis, Machacalis. Panhames, Capuchos, Patachos e outros.

Os brancos deram o nome de Botocudos a índios de várias tribos, como Crenaques, Nac-Nuc, Minia-Jixunas, Gute-raques, Nac-requés, Pancas, Manhan-giréns, Incutcrás. depois que lhes observaram as características comuns: o uso do botoque no lábio inferior ou nos lóbulos das orelhas, o que lhes dava um aspecto horrível.

O botoque era uma rodela de madeira branca, geralmente de paineira ou barriguda, medindo até 12 centímetros de diâmetro, a qual, depois de seca ao fogo. era introduzida por uma espécie de botão no lábio inferior e nos lóbulos das orelhas.

Os Botocudos eram índios fortes, musculosos, de altura mediana, caixa torácica larga e achatada na parte anterior, tronco alongado, mãos e pés pequenos, pernas finas e pescoço curto. O crânio do homem apresentava fronte baixa e, às vezes, bastante inclinado para trás,ocipital deprimido e as têmporas ligeiramente convexas.

A cor da pele variava em tons de pardo, canela-claro e bronzeado. Os cabelos eram fortes, brilhantes, negros, lisos e duros sendo usados raspados, assim também os supercílios e barba.

Andavam geral mente nus, mas usavam muita ornamentação corporal como penas de aves presas à cabeça e outras partes do corpo. Além disso, pintavam o rosto com tinta extraída do urucum e jenipapo. Também como ornamento, corporal apresentavam colares de sementes ou frutos de cores vistosas, incluindo. às vezes, dentes de macacos e outros animais.

Até meados do século XIX os homens Botocudos foram exclusivamente caçadores; a pesca e a coleta de alimentos ficavam a cargo das mulheres e crianças. Com a proximidade dos invasores brancos, que foram instalando suas propriedades agrícolas, os silvículas se tornaram salteadores de roças e ladrões de mantimentos e animais de criação.

O arco e a flexa eram suas armas de caça; não usavam canoas e outros tipos de embarcação, entretanto eram hábeis nadadores, muito amantes dos banhos. Usavam na sua alimentação, além das caças e peixes, frutos e raízes e até larvas de certos insetos; a carne de macaco e o mamão verde eram alimentos muito apreciados.

As moradias dos Botocudos eram de construção rústica, geralmente feitas de palmeiras encostadas aos pares, de rápida feitura, dadas à constantes caminhadas dos membros das tribos, pouco afeitas a se demorarem muito tempo no mesmo lugar.
                                         
                                                       BOTOCUDOS E A CIVILIZAÇÃO

Com o avanço da onda civilizadora dos brancos em seu território, os Botocudos resistiram até quando puderam. Alguns grupos foram mantendo contatos mais frequentes, diminuindo sua hostilidade, enquanto outros se retiravam para zonas distantes, somente ressurgindo com intenções belicosas ou de rapinagem nas propriedades já instaladas pelos primeiros povoadores.

Já na segunda metade do século passado, sendo Linhares sede do município, que abrangia extensa área, cobrindo todo o baixo Rio Doce, a movimentação no grande trecho fluvial, ligando os povoados nascentes, até Baixo Guandu - ponto de afluência de fazendeiros fluminenses e mineiros - e ocorrendo as primeiras tentativas de povoamento das margens Norte do Rio Doce, na área fronteira à atual cidade de Colatina, os Botocudos tiveram que optar pela sua integração à civilização dos brancos ou retirada permanente da região. Ambas as coisas aconteceram,pois muitos ficaram e muitos foram para outras regiões, internando-se nas matas espessas do Norte capixaba e do Nordeste Mineiro.

Pode-se dizer que a corrente pioneira que invadiu o baixo Rio Doce, a partir do final do século passado, plantando propriedades agrícolas ao Sul e Norte do Rio Doce, dando nascimento a povoados - futuras vilas e cidades -, bem como implantação da Ferrovia Vitória a Minas, já no primeiro decênio deste século, assinalaram parte do desaparecimento, por miscigenação, morte ou mudanças dos primitivos habitantes da região, restando hoje agrupamentos em Aracruz.

O rápido desenvolvimento de Colatina, a partir principalmente de 1921 -ano de sua emancipação política de Linhares - e a onda de povoamento da zona Norte, intensificadas a partir da construção da Ponte Florentino Ávidos, em 1928, foram determinantes que apressaram a absorção, quando não a extinção dos indígenas da região; e poucos vestígios deixaram eles de sua anterior presença, notando-se apenas alguns restos de sua cultura material -utensílios abandonados nos lugares onde se demoravam nas suas andanças e correrias, e, talvez nada mais.


Fonte:Revista Nossa

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