A VIDA DE JOÃO DE DEUS por Eleutério Scheneider

Uma das figuras mais pitorescas de Colatina é a do João de Deus. De chicote e estilingue na mão, sacolas penduradas pelo pescoço e sempre de bermudas,ele anda pelas ruas do cidade e é conhecido por todos. Não gosta que ninguém o chame de velho e se diz '‘menino", apesar dos seus 40 anos presumíveis.

A vida de João de Deus, suas amarguras, tristezas o alegrias de uma mentalidade não superior a do uma criança de 5 anos, estão em depoimento ao repórter Eleutério Schneider.

A verdadeira história de João de Deus,também conhecido como rabo de tatu, ninguém conhece. Conversando rapidamente,e às vezes dizendo coisas sem nexo, ele conta que nasceu em São João de Moulin, mas não só recorda o nome do município, sabe apenas que fica no Espírito Santo. Seu pai se chamava Brás e sua mãe Vicentina de Jesus.

No seu dia a dia na década de 70 acompanhado pelo repórter Eleutério ele demonstrou que os dias de desfile na cidade, para ele, são os mais felizes. De bandeira brasileira na mão, em 7 de setembro e 22 de agosto, dia da cidade - ele desfila junto com todos os colégios. Ora num e ora noutro. Passa em frente o palanque e ó delirantemente aplaudido. Não satisfeito, volta no fim da fila e desfila novamente, sempre sorridente.

Diz ser capitão da Polícia. Traz na lapela do terno velho que sempre usa uma insígnia com algumas estrelas, com a qual tenta provar que o realmente é um militar. Detesta ladrões e acha que todos tem que morrer, porque "roubar é muito feio". Gosta de ser chamado de menino e pede a benção a todos na rua. Vai sempre à Igreja e não perde uma cerimonia de casamento, mas diz que nunca vai casar porque mulher "é muito complicada".

Em Colatina, á figura de João de Deus, o popular Joãozinho, o conhecida por todos. Sempre de chicote na mão, um estilingue e várias bolsas penduradas pelo pescoço, ele se tornou uma das pessoas mais populares da cidade. Constantemente é visto correndo atrás de garotos com pedras e dando chicotadas pelo ar, mas não agride ninguém. Só assusta aqueles que gostam de chamá-lo de velho e de doido.

Às 7 horas da manhã, talvez mais cedo. Joãozinho.sai de casa, com destino ao centro de Colatina. Sempre com o inseparável chicote, o estilingue e duas bolsas contendo várias bugigangas, sai pelas ruas e pede a benção a todos, chamando as pessoas de "padrinhos". Aproveita também para pedir algum trocados, mas nunca Insiste se alguém não quiser dar.

Coloca o dinheiro em um cofrinho,as vezes embrulhado em até 5 sacolas de pano, para ficar bem guardado e continua a caminhada. Anda praticamente por toda a cidade e na hora do almoço vai até a igreja. Na época da reportagem no inicio dos anos 70,o padre Maurício - que ele diz gostar muito - João de Deus ganha sempre a comida do meio dia. À noite, janta na casa da "dona Fia" e aos domingos e feriados faz as refeições na pensão Linhares, que também lhe é ofertada gratuitamente pelo dono, Antonio.

Todos os dias, religiosamente Joãozinho vai à igreja. Assiste a várias missas do padre Maurício e sabe rezar muito bem. Como prova, cita de cor a Ave-Maria, o Pai-Nosso e o Credo Apostólico.
Das cerimonias de casamento, entretanto, 6 que ele mais gosta. Aos sábados, sentá-se na primeira fila ali, imóvel, assistindo a todos os casamentos. Perguntado sobre o porque desta preferencia pelos casamentos, Joãozinho mostra-se um pouco e sorri, dizendo que acha muito bonito. Faz questão de asseverar, porém, que nunca casará "porque mulher é muito complicada"


Reportagem do inicio dos anos 70 do repórter Eleutério Schneider.


Foto recente de Joãozinho de Deus


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