O CAPITÃO RUSSO DO VAPOR JUPARANÃ

O vapor Juparanã era comandado pelo russo Pedro Epichin. Conforme José Tristão, a “tripulação era aguerrida, recrutada ali mesmo, entre os caboclos das ensombradas dos cacaueiros e dos grandes jequitibás, pela argúcia do comandante Pedro Epichin, (1890-1968), um russo branco de velha têmpera, tão aventureiro quanto corajoso, que havia abandonado sua terra natal, uma cidade do império dos Czares, assolado pela revolução de 1917, vindo aportar em um navio russo no porto de Vitória. Era engenheiro naval, e foi ter às oficinas da Vitória-Minas, em João Neiva. Foi ali que o Governo realizador de Florentino Avidos o descobriu, entregando-lhe a missão de montar as peças e erguer o maquinário de aço importados dos estaleiros alemães, sob encomenda, vindo nos porões de um cargueiro germânico”. Completando as informações sobre o comandante Epichin, a professora Maria Lúcia Zunti, citando o Dr. Casais, diz: “O Comandante Pedro Epichin, é tão inesquecível para aos passageiros do Juparanã, como são as perpécias da viagem. Russo de origem, brasileiro por temperamento e por lei, é obsequioso e desfaz-se em amabilidades para com os turistas que vêm conhecer o rio, atendendo-os com a mesma cordialidade como os receberia em sua própria casa. Na zona fluvial é muito querido. Desde o rico fazendeiro ao mais humilde caboclo, consideram o Epichin como um velho camarada”. E continua a professora: “Na época da seca, o rio já ficava muito baixo e tinha-se que descobrir os canais certos para navegar o barco e evitar que encalhasse nos bancos de areia. ‘Epichin perscruta o canal com assombrosa perícia. Conhece, pelo reflexo da luz na água, onde a profundidade é maior’. Mas o rio é traiçoeiro e o barco encalhava várias vezes. Aí então havia alguns marinheiros prontos para o árduo trabalho – movidos de grossos paus – de deslocar lentamente o casco. Na viagem de Casais, já bem próximo da foz, ele refere-se a um destes trabalhos, que durou ‘mais de 5 horas”.

Passageiros do vapor ainda vivem por aí muitos cidadãos e cidadãs que viajaram no vaporzinho Juparanã que, inaugurado em 1927 e transportando mercadorias e pessoas por cinco décadas estava, por certo, na ativa na década de 1970. Uma dessas pessoas que ainda guarda na lembrança os encantos da viagem que fez de Colatina a Linhares é a professora Ilaria Rossi de Vasconcellos. “Lembro que foi uma viagem maravilhosa. Eu era adolescente, tinha uns 16 anos, aluna do Conde de Linhares e viajamos numa excursão, saindo de Colatina. O embarcadouro ficava perto da escola. Fomos no convés do Vapor, sentindo o vento no rosto e toda a emoção de navegar pela primeira vez. O rio ainda era caudaloso, as águas límpidas e a paisagem em derredor era pura exuberância. Foi um passeio inesquecível”.



Outra viajante dessa famosa embarcação é o contabilista Telmo de Freitas Rossi, nascido em 1932. Lembra que a família tinha um grande e bem sortido comércio às margens do Rio, onde é hoje a comunidade de Bonicenha, perto de Patrão-Mor. “Eu era rapazola e fiz a viagem de Colatina até o porto próximo ao comércio que tínhamos, onde havia uma antiga cerâmica. Um comércio que tinha de tudo, de botão a bicicleta, incluindo alimentos, ferramentas, sal, açúcar, querosene, pólvora etc.”. Segundo Telmo, “era muito gostoso viajar no Vapor escutando as pancadas do seu potente motor... E havia duas classes: passageiros de primeira classe iam no andar de cima, os de segunda iam embaixo”. E acrescenta: “Como o Juparanã transportava mercadorias e passageiros, ia fazendo paradas de um lado e outro do rio, em pontos determinados, até Regência...”.



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