O BATE-ESTACA NA CONSTRUÇÃO DA PONTE FLORENTINO ÁVIDOS

Papai me dizia que tinha visto, em 1925, um bate-estaca fincando vigas no fundo do rio Doce durante a construção da ponte de Colatina; enquanto atravessava o grande leito, rumo às matas de São Domingos, ficava admirado por ver aquele ‘mamute’ dando grandes marretadas nos futuros suportes da obra colossal. Ele era mais um ‘sem-terra’ saindo do antigo e abandonado núcleo Miguel Calmon, no córrego Sumidouro, em São José de Fruteiras, então município de Cachoeiro de Itapemirim. A obra era fruto das boas colheitas de café havidas no sul do estado.

Eu ficava pensando o tamanho da estrutura com motor diesel para executar aquela façanha; como poderiam deslocar aquele mundo por sobre a água e prendê-lo para realizar seu objetivo. Onde buscariam o diesel necessário para sua alimentação? Qual seria a marca do motor? De onde tinha vindo? Provavelmente da Alemanha junto com o cimento.

Muitos anos depois, pesquisando sobre nossa velha e eterna ponte, encontrei no Arquivo Público do Espírito Santo a foto esclarecedora. Não foi motor diesel; foi máquina a vapor que moveu o equipamento. O combustível estava ali mesmo nas margens do caudaloso ‘caminho que anda’; foi só cortar e secar. E depois queimar. Ers Vê-se que logo à frente já existia outro arcabouço de madeira pronto pra receber o ‘marretão’. Não me espanta que, como agradecimento, a população daquela Colatina mocinha de então tenha dado de presente a Florentino um relógio de ouro.
Fico pensando nas facilidades energéticas que temos agora: petróleo, eletricidade alternada e contínua abundantes, células, átomos. E, paradoxalmente, não temos como construir uma ponte nova para servir aos milhares de seres humanos que vivem do dois lados do imenso caudal, próximos ou distantes. Inaugurada em 1928, com a população de Colatina dando um relógio de ouro ao GRANDE FLORENTINO, mesmo não servindo para passar o sonhado trem que chegaria a Nova Venécia, por ali passou em caminhões e carretas a avalanche humana que vinha ocupar um ‘sertão desconhecido’ e garantir para o Espírito Santo esta outra cobiçada metade. Hoje ela passa pela 3ª ou 4ª modificação; não temos mais um ‘fazedor de pontes’. ‘Oh tempora, oh mores, oh tempos, oh costumes’

Texto de Altair Malacarne / 16.08.2013

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