OS MURAD INICIARAM EM ITAPINA

Angéle Murad jornalista de Vitória a pedido da Revista NOSSA no ano de 1989, que vinha fazendo um levantamento histórico da colônia libanesa em Colatina, fez um relato exclusivo para a edição especial sobre a história da sua família no Brasil, tendo como personagem principal seu pai, Victor Murad.

Quando me pediram para escrever esta matéria logo conclui que não poderia fazê-la com o mesmo profissionalismo que atuo na grande imprensa. Por uma simples razão: o entrevistado nada mais era do que o libanês Victor Murad, 78 anos, meu pai.
Nascido a 25 de março de 1911, na Aldeia Mouradieh, distante a 40 quilômetros de Beirute, capital do Líbano, Victor Murad então com 27 anos decidiu vir para o Brasil. O objetivo era obter estabilidade financeira e retornar ao seu País.
A chegada de Victor Murad ao Brasil, no dia 5 de março de 1928, foi também o encontro com três irmãos dele, Afonso, Luiz e Rosa, que tinham uma loja de tecidos em Itapina, distrito de Colatina. A partir dat Victor deixou para trás a carreira de professor de francês no Colégio Marista, em June, Líbano, e investiu na área do comércio, que só abandonaria 40 anos mais tarde.
Como todo estrangeiro que não conhecia absolutamente nada na língua portuguesa, teve dificuldades. A adaptação, no entanto, foi rápida: em menos de dois meses, já estava trabalhando com os irmãos.
Em 1931, mudou-se para Colatina, onde abriu uma filial da loja de tecidos. A cada dia que passava ficava mais difícil cumprir a promessa feita à sua mãe de regressar ao Líbano num prazo de cinco anos. A atividade comercial foi exercida também em Vitória por cinco anos, de 1945 a 1950. Durante esse período, Victor conheceu Aypha, filha de libaneses, com quem se casou em 1948. Novamente o início da vida, agora a dois. De volta para Colatina, ele abriu uma loja de secos e molhados. O primeiro filho, Luiz Antônio, cujo nome é referência a dois irmãos de Victor, nasceu em 1949.
O reencontro com os parentes só se deu em 1952, quando Victor, Aypha e os filhos Luiz Antônio e Maria da Penha visitaram o Líbano. Vinte e dois anos mais tarde, em 1974, ele voltou, sozinho, ao seu País.
O comércio não foi a única atividade de Victor. Ele assumiu por um bom tempo o trabalho com as crianças carentes, sendo presidente da Associação dos Pais e Mestres do Colégio Marista, de Colatina, de 1972 a 1977. Recebeu ainda o título de Cidadão Colatinense, em 1975.
Em 1978, resolveu deixar a cidade, mudando-se para Vila Velha e depois Vitória.
Devoto de Nossa Senhora e muito religioso, ensinou aos filhos a amar o Líbano mesmo sem conheceria repudiar a guerra, que vem destruindo o seu País.
A união da família talvez seja a maior lição que Victor dá constantemente aos seis filhos e nove netos, frutos do casamento que dura 41 anos. A dedicação e o trabalho dos dois possibilitou a criação dos filhos Luiz Antônio, José Augusto e Anette ( médicos); Maria da Penha (professora e, atualmente comerciante); Afonso Tadeu (irmão Marista); e Angéle (Jornalista).

Reportagem de Angéle Murad


Fonte: Revista Nossa 1989

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