O Governador Nestor Gomes, homem preocupado com o futuro do estado, propôs-se a buscar meios para a abertura de estradas e incrementar a navegação fluvial. Colatina já ganhara sua ferrovia, agora em busca de estradas de rodagens para a direção de Nova Venécia, surgia, para contentamento da Câmara Municipal e do Executivo,a ponte Florentino Ávidos. E, mais ainda, o Governador Florentino Ávidos que substituía Nestor Gomes, adquiriu o mais famoso dos vapores que navegaram no rio Doce,o inesquecível Juparanã. Isto no final de 1927.
Em 1989,a Revista “Nossa" conseguiu manter contato com um marinheiro que trabalhou no vaporzinho “Juparanã",no período de 1943 a 1954,quando a embarcação encalhou,ocasião em que era prefeito de Colatina o médico Raul Giuberti. Trata-se de José Dias,que,durante a entrevista,citou nomes de outros integrantes do vaporzinho e teceu alguns comentários sobre a embarcação e suas viagens, além de algumas curiosidades.
Foram citados como membros da tripulação, além do próprio José Dias,os marinheiros Pedro Hermes e Antônio Miguel,o marinheiro e contra-mestre Emílio,o foguista José Miguel,o maquinista João Campana,o cozinheiro Eliseu Nunes,os contra-mestres Neto e João Flora,o mestre antigo e chefe dos contra-mestres Mário Penha. O comandante do vaporzinho era Pedro Epichim,que tinha dois imediatos: seus filhos llto Epichim e Alberto Epichin. Na falta de Pedro Epichim,o primeiro a substitui-lo era llto Epichim. Quando os dois não podiam assumir o comando do barco, era a vez de Alberto Epichim se responsabilizar pelo vaporzinho.
O vaporzinho tinha 26 metros de comprimento e 6 de largura e uma caixa d'água cuja capacidade era de 1.500 a 2.000 litros,segundo José Dias. Nos seus 8 camorotes se alojavam o comandante, em um que possuía uma cama e um beliche,e o contra-mestre em outro,com uma cama,enquanto que os outros camarotes ficavam para o os passageiros.
No convés, conta José Dias, havia bastante conforto, com bancos, mesas e até um barzinho com geladeira. A embarcação era bem iluminada.
O marinheiro José Dias sente saudade daqueles tempos em que viajou no vaporzinho,lembrando,inclusive,que existia uma escala de vigias quando o barco estava ancorado. Podia ser domingo ou até mesmo feriado que,mesmo assim,ficava sempre um marinheiro de plantão,no serviço de vigia que durava 24 horas por dia.
Quem tomava conta da carga e descarga eram os marinheiros João Flora e Emílio.A limpeza dos porões também era função dos marinheiros. Por falar em porões,nestes compartimentos do navio cabiam mil sacas de cacau. No convés,porém,cabiam somente 800 sacas.
Dias revelou qual era a rota do vaporzinho quando nele trabalhava:a primeira rota de paradas,em fazendas antes de Linhares era em Aroldo,Fazenda das Palmas,Terra Alfa e Piabanha (antes da Lagoa Nova).Depois seguia pela Fazenda Guerra,Fazenda Terezinha,Fazenda Estrela do Norte, Estrela do Sul, Primazinha, Fazenda Califórnia e Fazenda Caporanga.
O vaporzinho parava ainda em Barbados,onde era carregado com telhas na localidade onde hoje está a cerâmica Mário Dala Bernadina. O carregamento era de 4 a 5 mi telhas,por viagem,que eram levadas para as fazendas que margeavam o rio Doce ou para Linhares. Esclareceu ainda o marinheiro que o vaporzinho transportava também cabritos, galinhas e porcos,rebocando,ao mesmo tempo,duas ou três canoas de Linhares a Colatina.
Segundo José Dias,o vaporzinho Juparanã saia de Colatina sempre às terças-feiras,às 7 horas da manhã,e chegava em Linhares às 19 horas. Na quarta-feira,saía de Linhares pela manhã e chegava às 18 horas em Regência. Na mesma quarta-feira,seguia de Regência para a localidade denominada Povoação,que ficava 6 Km acima de Regência e,na quinta-feira/ voltava de Povoação para Linhares,onde pernoitava,fazendo também o carregamento e a descarga,na mesma noite. Na sexta-feira,partia de Linhares,às 6 horas da manhã,com destino a Colatina. Quando tudo corria bem,chegava à meia-noite ou à uma hora da madrugada,já no sábado. Se acontecesse algum problema, o vaporzinho só atracava em Colatina às 9 horas de sábado.
Conforme o relato de José Dias, já houve ocasiões em que o vaporzinho chegou a transportar até 150 pessoas,mas o normal era um número aproximado de 30 a 40 pessoas,porque havia sempre embarque e desembarque em vários portos e igualmente,carga e descarga.
Uma observação do velho marinheiro aposentado é que,nos portos onde o navio atracava,quando era dia,o passageiro usava apenas um pano vermelho na ponta de uma vara para que o comandante da embarcação soubesse que havia passageiro naquele lugar. Quando era noite,ele usava um candeeiro improvisado,ou seja,uma vara de bambu com querosene na ponta e um pavio que, aceso,iluminava o local do passageiro,servindo de sinaleira para avisar o comandante sobre sua necessidade de embarcar.
Quanto às viagens a Itapina,isto acontecia para levar times de futebol. Muitas vezes, a população colatinense aproveitava para passear e o vapor era completamente cheio, com até 150 pessoas, que faziam festa e dançavam para comemorar a viagem de lazer.
Pedro Epichin não era brasileiro de nascimento. Nasceu na Rússia,mas tinha um amor muito grande por Colatina e Linhares,já que era ele o principal responsável pela locomoção de pessoas nas águas do rio Doce para as duas localidades,a bordo do vapor Juparanã. Este “homem das águas” tinha noção básica de navegação fluvial e por diversas vezes cruzou a distância dentre as duas localidades. Por falta de documentação e de registros,não se sabe ao certo a data que recebeu o título de cidadão colatinense,outorgado pela Câmara Municipal,entre 1930 a 1933,num reconhecimento do Legislativo pelos seus relevantes serviços prestados para o desenvolvimento de Colatina.
Hoje,Colatina possui numa de suas ruas o nome do valoroso comandante Pedro Epichin, num projeto da Câmara Municipal de Colatina.
 |
| Vapor Juparanã em Colatina,em 1932 pela lente de Froemmig |
FONTE:Revista Nossa,outubro/1989
Contribuição do acervo de Cláudio Wotkosky
Comentários
Postar um comentário