ESTUPRO REVOLTOU A POPULAÇÃO DE COLATINA EM 1994

Um caso de estupro que culminou com a morte de uma menina de 12 anos,revoltou a população Colatinense no ano de 1994. Esta matéria do passado abre uma questão presente. Será que nossos jovens estão imunes quanto a esta prática ou continuam desprotegidos?

Será que as crianças estão tendo seus direitos cumpridos,como consta no artigo 227 da constituição brasileira?Vemos diariamente estes trágicos fatos contra a criança ocorrendo explicitamente.Como o caso mais recente de Repercussão nacional. O caso Bernardo Boldrini. Percebemos a partir deste recente caso que a justiça só não está mais cega,como também surda. Os gritos de socorro deste menino ecoaram por muito tempo em nossa memórias. Como também o caso de várias outras crianças vítimas da sociedade? Na época da reportagem da revista Nossa de 1994, a opinião do juiz e promotor do caso foi bastante valiosa.Confira agora o conteúdo na íntegra da época.
                              

                                                       ESTUPRO REVOLTA POPULAÇÃO
Rosângela,12 anos,foi brutalmente assassinada na manhã de domingo,dia 27 de março(1994),em uma casa abandonada pertencente a Companhia Vale do Rio Doce,situada próxima a antiga estação ferroviária,no centro da cidade.
A polícia prendeu os criminosos C. D da Silva e J. R. Borges,o "Bidu",.poucas horas após o crime. O primeiro a ser preso foi J. R Borges,que logo após a prisão tentou negar a sua participação no estupro,o que entretanto,foi descartado pela Polícia que encontrou no local roupas suas manchadas de sangue. C. D. da Silva foi preso dias depois e confessou,friamente,o estupro e assassinato da garota.
C. contou que a garota foi atraída para a casa pelos dois,onde foi violentada e enforcada com um cinto. Um cobertor foi usado para impedir seus gritos.O assassinato e seus autores foram descobertos por um segurança da Vale do Rio Doce,logo em seguida. O corpo da garota apresentava ferimentos nos seios e na vagina,por mordidas dos assassinos. Segundo as apurações policiais,Bidu havia passado a noite de sábado anterior ao crime em companhia dela. A garota estudava na escola Carolina Pichler, em São Silvano.Onde cursava a terceira série.Tinha problemas familiares e costumava fugir de casa frequentemente, ficando ausente por dias,sem a família ter conhecimento de seu paradeiro.

                                                                                PROMOTOR

Há quatro meses em Colatina,o promotor da Vara de Orfãos, Sucessões e Menores,"Mauly Martins da Silva, também reagiu com indignação ao assassinato de Rosângela Souza,sobretudo pela forma utilizada pelos criminosos para mata-la. "Uma criança perder a vida desse jeito | mais é estarrecedor ainda".
Ele afirmou que apesar dos inúmeros problemas que já se deparou em Colatina,ele explica que a Promotoria não pode deixar de atuar e ajudar a comunidade,os menores infratores e os pais na resolução desses problemas. "AIém da questão social,eles não recebiam reprimenda maior dos poderes constituídos".
O promotor garantiu que haverá uma parceria com o Juizado,para a promoção de um trabalho com os pais e a sociedade."Estamos evoluindo nessas questões e vamos atuar com maior rigor,cobrar maior autoridade dos pais e atuar junto com a criança e com o adolescente de uma forma mais efetiva".
Mauly da Silva é enfático em lembrar que lugar de criança é na escola e que veio para Colatina com o único objetivo de colaborar com a comunidade,atuar rigorosamente junto,ao Estatuto da Criança e do Adolescente. A dobradinha Jocy Zanotelli e Mauly da Silva promete dar certo.


                                                                                     JUIZ

Abordado sobre o assassinato de Rosângela Souza,o juiz Jocy Zanotelli,da Vara de orfãos,Sucessões e Menores,ha dois meses atuando em Colatina,disse que vê com muita tristeza tudo o que aconteceu,atribuindo o fato ao quadro social do pais,"aos bolsões de pobreza,que a curto prazo,não tem solução,e a falta de estrutura familiar causada por essa pobreza e miséria. Para ele,"a menina já estava jogada nessa miséria e apenas estava mais exposta que outras pessoas,mas enfatizou que,o que aconteceu poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa. Do jeito que aconteceu podemos afirmar que só mesmo doentes sexuais,para agirem de forma que agiram com a menina".
Zanotelli explicou que quando meninos e meninas de rua são encontrados pelas ruas,o Juizado,tão logo tem conhecimento,procura encaminha-los a escola ou ao trabalho. "O que queremos e tira-los das ruas,e para isso,estamos procurando metas que auxiliem.O lar Irmã Scheila tem contribuido muito para receber as crianças e adolescentes nessa situação. Mas quando o caso e mais grave pode haver recolhimento para o lesbem,onde eles podem ficar ate por três anos".
Entretanto, o juiz afirmou que o que pretende mesmo e começar uma sindicância com o comissariado de Menores,a fim de cobrar maior responsabilidade dos pais quanto a frequência na escola e ao trabalho dos filhos,buscando situa-los no que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente. "Vamos fazer funcionar o Estatuto a risca. O que queremos e que eles estejam na escola ou no trabalho e não nas ruas". Ele esclareceu que a cobrança aos pais sera feita com cautela porque geralmente o que ocorre e que os pais são pessoas ignorantes e podem punir os filhos. Seremos cautelosos".
                                                                        


Para Zanotelli, são os pais os verdadeiros responsáveis junto aos filhos. "Eles tem total responsabilidade. Na verdade todos os pais que abandonam os filhos são criminosos.Mas dada a questão social é que temos sido tolerantes e não tomamos uma medida mais enérgica e imediata. Muito embora temos tornado,já em alguns casos,medidas drásticas contra pais que deixam os filhos abandonados".
Segundo o juiz,uma de suas esperanças e o funcionamento do
Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente (Caic)."Acredito que vai diminuir bastante o número de crianças e adolescentes abandonados e pelas ruas. Teremos condições de cobrar mais do poder público e dos pais,que não estão exercendo a sua autoridade",completou.
                                                                                      

Para a educadora de Meninos e Meninas de Rua e representante do Movimento Estadual de meninos e Meninas de Rua,filiado ao Movimento Nacional,Julia Deptusky,é preciso que a sociedade,os partidos políticos,as autoridades,a família se unam em defesa da criança e do adolescente,fazendo questão de frisar,"de rua ou não" urgentemente."Sem nenhuma ingerência político-partidária, a grande causadora do emperramento de projetos importantes para a população,que acabam sendo levados por água abaixo e protelando o problema que esta cada cada vez mais serio. Enquanto os homens do poder brigam,eles continuam sendo vitimas".
Deptusky defende o funcionamento imediato do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, que já foi criado. "O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a criação desse Conselho e tanto a União,o Estado e o Município devem ter um conselho funcionando. Esse conselho viabiliza todas as condições para poder atuar junto a infância e a juventude.

                                                       


Segundo a educadora,Colatina não tem nenhuma entidade para tratamento,inclusive de crianças com problemas físicos e mentais,para a realização de um trabalho mais abrangente e social. "Não há sequer um albergue para abrigar os meninos e meninas de rua", reclama.
Ela lembrou que Rosângela Souza não e a primeira vítima da violência e do descaso. Em apenas seis meses dois garotos e ela tiveram suas vidas ceifadas, sem direito a uma recuperação e a uma infância e juventude dignas, "Essa situação pode ser pior,se nada for feito.O que há de mais concreto em termos de trabalho é o que é feito entre nós e o Comissariado de Menores,conjuntamente. São pessoas realmente engajadas na luta em defesa da infância e da juventude. Mas e preciso o engajamento de todos,das autoridades e da sociedade,a participação. Que a Delegacia da área,que em diversos lugares no pais e no Estado já funciona,também funcione satisfatoriamente em Colatina. Que haja um trabalho realmente responsável. Por enquanto não estamos vendo essa Delegacia funcionar como deveria. Se não houver responsabilidade, não haverá defesa nenhuma e nossas crianças e adolescentes vão ficar a mercê dessas situações tristes,que nos deparamos. Sendo da rua ou não",salientou.

Fonte: Revista Nossa de Abril de 1994.







Comentários