A COLONIZAÇÃO DO NORTE DE COLATINA

Florentino Avidos
Florentino Avidos disse em seu RELATÓRIO FINAL (Arquivo Público)
“ESTRADA DE FERRO RIO DÕCE---SÃO MATEUS
Tendo-vos exposto em minha mensagem passada a necessidade da construção dessa estrada, como meio único de se povoar e colonizar todo o norte do Estado, mandei logo abrir um picadão de Collatina a Nova Venécia, transformando-o logo em caminho carroçável, o que está sendo feito, havendo mais de 90 kms. em condições de trânsito. Logo que foi possível a travessia de um cavalleiro de um ponto a outro, commissionei o mesmo engenheiro Ceciliano Abel de Almeida para fazer o reconhecimento geral e propor o que fosse mais conveniente para o objetivo de servir àquella região.
Com trabalhos e sacrifícios pessoais, que só no amor ao seu torrão natal encontra compensação( Ceciliano era de São Mateus), fez aquelle engenheiro essa travessia.pernoitando em plena floresta, por várias noites consecutivas, e apresentando o seu relatório com a indicação de novos picadões e detalhes a examinar.
Na execução de tão árduos trabalhos, teve o governo na pessoa do Snr. Dr. Carlos Alberto dos Reis Castro um auxiliar corajoso e decidido, que, além desses picadões, está fazendo outro de Nova Venécia a Mayrink, na Estrada de Ferro Bahia e Minas, facultando o conhecimento de toda essa região despovoada e prestando valioso concurso.
Além desse reconhecimento, estão feitos cerca de 30 kms. de estudos de exploração; está sendo locado, para ser immediatamente atacado, o primeiro trecho de 5 kms., a partir de Collatina.(A ferrovia não passaria daí.)
Nesse trecho, vae-se ter, pela primeira vez, entre nós, a opportunidade de fazer com a linha um lace completamente fechado, isto é, a linha, ao partir da margem do rio, após um desenvolvimento de 600 metros de comprimento, atravessa o seu próprio leito em viaducto (eu o conheci), depois de ter subido 8 metros. Este dispositivo trouxe um encurtamento de 1.100 metros, em relação aos estudos já feitos.
Como início desses trabalhos, começou-se o estudo da ponte para a travessia do rio Doce, em frente à cidade de Collatina, da Estrada de Ferro Victória a Minas.
Fizeram-se sondagens cuidadosas e estudaram-se outros pontos em que fosse mais curta a ponte, chegando-se, porém, à conclusão de que o primitivo local é o mais conveniente.
Si os nossos recursos orçamentários não decrescerem, por algum motivo imprevisto, penso ser de grande necessidade que seja feita immediatamente a ponte, de um só impulso, no mais curto prazo passível e executada a construção da estrada por trechos de 15 a 20 kms. annuaes.
Penetrando-se em zona despovoada, não se pode esperar receita de tráfego que corresponda aos sacrifícios pecuniários a fazer, por isso a construção deverá ser lenta, de modo a não pesar demasiadamente nos nossos orçamentos.
Para a construção da ponte há muito material adquirido e certo apparelhamento de installação já feito, tendo-se dispendido com tudo quanto se refere a esse emprehendimento a quantia de 375.712$714.”

Colatina em 1928- viaduto aonde passaria a linha férrea.

A riqueza que havia imediatamente era a madeira. Depois viria a exploração do solo. O plantio do café..., sempre ele..., até hoje, apesar dos pesares. Esse sertão entre Colatina e São Mateus tinha sido recentemente recomprado pelo Estado. Dizia Nestor Gomes na sua já citada mensagem de 1924, incluindo entre suas realizações:
“30º - Acquisição dos terrenos que pertenciam à Societé Forestère e A Companhia Santa Cruz Barbados, num total de duzentos e cinqüenta e um mil hectares(pegava quase todo o norte do ES)). (Parece incrível que houvessem alienado--- sem condições---tão grande porção das nossas terras!)

Essas terras seriam entregues em sua maioria à Companhia Territorial(criada em Colatina em 1923), para colonização. Uma faixa de cada lado da sonhada Estrada de ferro Colatina/São Mateus foi reservada para a própria Estrada-de-Ferro colonizar. Esta faixa estava entre a margem esquerda do rio Pancas até a margem esquerda do rio São José. O Secretário de Agricultura de Florentino Ávidos, Benvindo de Novaes, entregou a Bertolo para colonizar esses terrenos. Posteriormente, no governo de Aristeu Borges de Aguiar,
seria lavrado um contrato entre o Estado e a firma Costa & Malacarne no dia 15.03.1929 no Cartório dos Feitos de Fazenda Pública Estadual. Esta contrato consolidava o que se chamou de nova concessão. Já antes do malogro da ferrovia, Bertolo trabalhava na venda dos terrenos da velha concessão. Estes terrenos estavam distantes do rio São José, onde dava febre até em macaco.

O processo de colonização do Norte do rio Doce estava iniciado. Havia fatores circunstanciais que favoreciam a obra. Encontrei, num bom livro sobre a história de nosso pequeno Grande Estado, o seguinte texto:
“Estradas e pontes, construídas nos governos da República Velha, facilitaram o acesso àquela parte do território capixaba. Cabe destacar, em particular, a ponte sobre o Rio Doce, em Colatina, que se transformou no elo de passagem no sentido sul-norte.
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Além dessas hordas constituídas por descendentes de colonos, também dirigiram-se para a região, vindos do oeste, os mineiros e, provenientes do nordeste do Brasil, os baianos.” (SCHAYDER, 98)

Foto da estrada de ferro saindo de Colatina(São Silvano)

Altair Malacarne/SGP, 09.02.2010 E 10.11.2014







 

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