Todo domingo à noite lá íamos nós. Ficávamos em pé em cima da mureta de cimento que havia ao lado da linha férrea na Avenida Getúlio Vargas em Colatina. Era gostoso.
Enquanto a bandinha do Walfredo se desdobrava nos dobrados, as moças desfilavam nos 2 sentidos mostrando seus vestidos. Mas estávamos mesmo interessados em suas curvas mais salientes. Ficávamos paralisados contemplando ou vislumbrando aqueles rostinhos lindos, seus seios pontudos, suas proeminências calipígeas. Havia uma fartura de visões inebriantes. Nós rapazes ficávamos todos frajolas; ‘a realidade coberta pelo manto diáfano da fantasia’.
De repente, poderíamos receber um olhar mais atencioso, arriscar um sorriso, iniciar um papo, descolar uma namorada, sonhar em pegar sua mão.
Eram outros tempos. O cortejo era ritual. Falávamos que íamos fazer uma conquista. As meninas eram românticas. Contávamos nossos namoros pros colegas. Às vezes saía até n'O COLATINENSE, na coluna social da ‘Julieta Kreoula: era a consagração. Poderia dar casamento. No meu caso deu.
Éramos felizes.
ALTAIR MALACARNE/SGP, 06.05.2007 e 07.11.2014
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